A EVOLUÇÃO DE UM SER

 Livro de Ivo Ferreira Neto revela as diversas existências do espírito que encarnou no Brasil como Tiradentes e Padre Cícero.

 Por Moura Neto

 O que pode haver em comum entre homens que viveram em locais e épocas tão distintas como Aquiles, Mário (o militar), Pilatos, Papa Gregório XI, Pizarro, Tiradentes e Padre Cícero Romão? Aquiles foi um dos heróis da guerra de Tróia, ocorrida em 1200 a.C.. Mário viveu no período de 157-86 a.C., como general em Roma, e ganhou notoriedade ao destruir a poderosa cidade de Cartago, no norte da África. Pilatos, procurador do império romano na Judéia, acabou cometendo suicídio depois do julgamento e condenação de Cristo. Gregório XI foi responsável pela morte de milhares de pessoas nas fogueiras da Santa Inquisição, o tribunal eclesiástico que se apresentou com maior pujança no século XIII. O espanhol Francisco Pizarro dizimou o povo inca ao conquistar o Peru à época do descobrimento do Brasil. Tiradentes, simples alferes, foi morto e esquartejado em 1792, acusado de ser um dos líderes da Inconfidência mineira. Padre Cícero fundou, no início do século passado, a cidade de Juazeiro do Norte, no Ceará, para onde ainda hoje romeiros convergem em busca de seus milagres.   

Para Ivo Ferreiro Neto, estudioso da doutrina espírita, há um elo de ligação muito maior entre todos eles além do evidente fato de que ficaram famosos pelos feitos que realizaram em vida. Estes personagens, segundo Ivo Ferreira Neto, são a mesma pessoa em reencarnações diferentes. A revelação está no livro A evolução de um ser, recém-lançado em Natal, no qual o escritor narra a trajetória de um espírito em suas múltiplas existências na Terra. Para realizar proeza de tal envergadura, o autor pesquisou livros da doutrina kardecista, especialmente os ditados pelo espírito de Tomás Antônio Gonzaga para a psicografia da médium Marilusa Vasconcelos, e se municiou de informações obtidas dos próprios espíritos ao longo de mais de 25 anos que freqüenta o Centro Espírita Evangelho no Lar, situado na rua Apodi, 414, Tirol, sob a direção de Waldemar de Souza Matoso.

Há outras revelações inéditas no livro, que podem surpreender crédulos e incrédulos. O autor afirma, por exemplo, que o espírito daquele que foi Padre Cícero - e demais personagens citados acima - está reencarnado atualmente em Natal. No entanto, prefere omitir o nome para evitar constrangimentos desnecessários. O personagem principal do livro, ressalta Ivo Ferreira Neto, também teve outras inúmeras existências anônimas, inclusive encarnando em corpos mutilados, vivendo na miséria e esmolando para sobreviver, como resultado da Lei de Causa e Efeito que, conforme entendimento da doutrina espírita, rege a evolução dos seres. Anjo caído, durante quase 500 anos, antes de se regenerar, este mesmo espírito, acrescenta o escritor, foi considerado o Capeta das Trevas, reinando nas regiões mais sombrias do mundo espiritual.

Como bem enfatizou no prefácio o poeta Sanderson Negreiros, membro da Academia Norte-Rio-Grandense de Letras, o livro foge terminantemente do pensamento bem comportamento, da experiência trivial e cotidiana, mas não tem pretensões literárias. É, antes de tudo, o testemunho daquele que encontrou no Espiritismo respostas para seu sofrimento diante da perda prematura de dois filhos e acompanhou durante todo esse tempo o trabalho “missionário” que Waldemar Matoso realiza sem alarde em sua própria residência. Entre estes trabalhos, iniciados há cerca de 30 anos, destacam-se os de desobsessão, desmanche de Magia Negra e, acreditem se quiser!, de atendimento a espíritos que estão nas trevas - devidamente avalizado por dirigentes espíritas do porte de Divaldo Franco e Chico Xavier.

“Os trabalhos de resgate de seres trevosos são realizados numa sala fechada, em suave penumbra, por um seleto grupo de médiuns”, informa o escritor. Ele conta que os médiuns de vidência, desdobramento e incorporação são conduzidos às trevas pelos dirigentes espirituais da casa, entre os quais figuram dr. Bezerra de Menezes e Augusto Severo de Albuquerque Maranhão, norte-rio-grandense que faleceu em 1902, em Paris,  realizando vôos experimentais em um balão. Ao identificar o espírito que lidera determinada região ou falange, o médium o incorpora para que seja doutrinado por Waldemar Matoso. “Isso acontece em confronto verbal, que exige firmeza, amor, conhecimento e inteligência do doutrinador”.

Ivo Ferreira Neto diz que durante sete anos presenciou os mais fortes diálogos entre Waldemar e os espíritos líderes, inteligentes e argutos, afeitos ao mal, que somente com a ajuda de espíritos inteligentes, afeitos ao bem e em luz, conseguem se redimir. Doutrinados foram, ao longo de todos estes anos, segundo ele, os espíritos embrutecidos de algumas figuras que marcaram a História da Humanidade e do Brasil: os sacerdotes Anás e Caifás, que condenaram Jesus; o conquistador Genghis Khan, fundador do império mongol; o cruel Aníbal Barca, general cartaginês; o ensandecido ditador alemão Hitler e o cangaceiro nordestino Lampião, entre outros.

Waldemar Matoso, o doutrinador nas trevas

A evolução de um ser narra, por tabela, episódios que levaram o então empresário Waldemar Matoso a se tornar espírita e realizar o trabalho “sui generes” de limpeza da crosta terrestre, que poucos espíritas acreditam possa ser realizado de maneira tão intensa e contínua, às vezes pela manhã, à tarde e à noite. O fato marcante dessa conversão aconteceu em 1971, quando Matoso conheceu o médium pernambucano Valdemar Gouvin, funcionário do almoxarifado da Base Aérea de Recife, que materializava o espírito do médico alemão Frederick Kempler para curar os enfermos.

O fenômeno foi presenciado várias vezes por inúmeras pessoas que participaram das sessões realizadas na residência do casal Waldemar/Lúcia Matoso, como o desembargador João Maria Furtado e o médico Luiz Rodolfo Pena Lima, algumas delas submetidas a intervenções cirúrgicas espirituais e curadas de suas doenças. “Foi naquele momento que Waldemar rasgou sua carteirinha de incrédulo”, conta Ivo Ferreira Neto. Afinal de contas, pelo processo de materialização o espírito de Kempler surgiu no meio da assistência, como um mortal qualquer de carne e osso, tocando e deixando-se tocar por quem duvidasse que aquilo fosse possível.

O livro também enfatiza as curas processadas pela mediunidade do próprio Waldemar Matoso, que ao enveredar nas lides espíritas passou a trabalhar, mais tarde, com o mesmo dr. Kempler. “Eu próprio testemunhei, tão somente pela imposição das mãos, a realização de cirurgias, observadas por médiuns videntes, ou na ausência destes, através da paranormalidade de Waldemar que funciona, como bem dizem os espíritos, e ele mesmo reconhece, como o fio-terra, veiculador das energias dos médicos espirituais para que as curas se efetuem”, afirma o escritor.


O autor

Nascido em 1929, em São Tomé (hoje Lagoa dos Velhos), Ivo Ferreira Neto é engenheiro agrônomo e professor aposentado do Colégio Agrícola de Jundiaí, onde lecionou 22 anos. Foi prefeito do seu município, entre 1964 e 66, quando se afastou do cargo para ocupar a chefia do Departamento Agropecuário do governo Monsenhor Walfredo Gurgel. Publicou em 1993, pela Fundação José Augusto, o livro Genealogia e antropologia de um povo.

Serviço

A Evolução de um ser, edição do autor, 130 páginas, pode ser encontrado em livrarias espíritas ao preço de R$ 12,00. Os recursos obtidos com a venda do livro serão destinados à Fundação Lar Celeste Auta de Souza, em Macaíba, onde o Centro Espírita Evangelho no Lar mantém mais de 200 crianças numa creche.