Memórias de um velho espírita

 

Ivo Ferreira Neto lança livro em que relembra acontecimentos

marcantes da história recente do Rio Grande do Norte

 

Moura Neto

 

Um passeio pelo sertão, pelos hábitos e costumes de um povo simples e suficientemente forte para enfrentar com dignidade as vicissitudes da vida castigada sobretudo pela seca; a chuva, quando caía sobre a região, transformava a rotina da zona rural, como ocorre ainda hoje, levando adultos e crianças a festejarem o acontecimento com incontida euforia.

Um passeio pela Natal da década de 40, quando militares americanos fizeram da cidade um trampolim para a guerra que banhava a Europa de sangue e agitava os mares do Atlântico Sul; uma época em que o professor Clementino Câmara arrebatava a admiração dos alunos que se preparavam, com ele, para fazer o curso de admissão ao ginasial; os estudantes do Ateneu passavam sabão nos trilhos do bonde, causando pandemônio entre os passageiros que temiam um descarrilamento; e a Casa do Estudante recebia o primeiro plantel de jovens que mais tarde iriam ter ativa participação na vida social e econômica do Rio Grande do Norte.

Neste passeio pelo passado despontam personagens folclóricos como Zé Lins de Oliveira, que com suas tiradas desconcertantes desafiava a autoridade dos professores do Ateneu; e Nezinho Fernandes, que gostava de convocar os moradores de sua fazenda para “beber e cantar” em velórios, cujo morto era ele próprio, que se deitava sobre uma mesa, rodeado de velas, provavelmente se refazendo de mais um porre.

Tudo isso está no livro  Relembranças do livre-arbítrio de Ivo Ferreira Neto, 72 anos, cujas memórias acabam revelando, sob o prima da doutrina espírita, a qual aderiu há cerca de 25 anos, importantes e curiosos momentos da vida social e política do Rio Grande do Norte – como as conseqüências do golpe de 64, quando ele, como prefeito de Lagoa de Velhos, esteve com o governador Aluízio Alves e com o prefeito Djalma Maranhão; a campanha em defesa do jumento nordestino; e o momento em que o Colégio Agrícola de Jundiaí, onde se aposentou como professor em 1988, passou a fazer parte da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

                       Ivo Ferreiro narra neste livro (edição do autor, julho de 2002, 120 páginas) episódios da vida familiar, como o momento em que conheceu sua futura esposa ainda no berço, o sofrimento causado pela morte de dois filhos e as circunstâncias que o fizeram abraçar o Espiritismo. Um livro singelo. Uma leitura gratificante.

 

O autor

 Ivo Ferreira Neto nasceu em 6 de dezembro de 1929 no município de São Tomé, mais tarde Sítio Novo e hoje conhecido como Lagoa de Velhos/RN. Engenheiro agrônomo formado pela Escola Nacional de Agronomia da Universidade Rural do Brasil, no Rio de Janeiro, concluiu o curso de licenciatura em Ciências Agrícolas na Universidade Rural de Pernambuco.

Teve uma passagem rápida pela política como prefeito de Lagoa de Velhos, pelo PSD, entre 1964 e 1966, quando se afastou do cargo para assumir a chefia do Departamento Agropecuário da Secretaria de Agricultura no Governo de Monsenhor Walfredo Gurgel.

Aposentado desde 1988 como professor do Colégio Agrícola de Jundiaí, onde lecionou 22 anos, tem dois livros publicados: “Genealogia e antropologia de um povo”, de 1993, pela Fundação José Augusto, e “A evolução de um ser”, de 2001, edição do autor. Tem mais dois livros inéditos: “Ocaso” (poesia) e “Almas comprometidas” (romance espírita).