Misticismo do Som

Por Laerte Willmann

Arte para artistas ou arte para todos

        Apesar de Inayat Khan ser um músico clássico e sonhar com o retorno da importância da música da antiga Índia, não foi este que as Danças da Paz realizaram. Samuel Lewis, quando confrontado com a realidade básica de ter um grande número de jovens em torno de si, ávidos para absorver a Mensagem Sufi que ele tivesse para transmitir, criou suas danças com os elementos mais simples que podia encontrar em seu coração. Gestos simples, mantras cantados com melodias fáceis, muitas vezes numa nota só. E foi através dessas danças que o Sufismo Universal se renovou e desenvolveu novos instrumentos de trabalho para o mundo de hoje.

        A simplicidade não é algo estranho aos grandes músicos e dançarinos clássicos. Muitas vezes esses artistas, habituados a formas de grande sofisticação, sonham com uma arte simples e direta, que recupere o frescor das formas primitivas. Eles mesmos por vezes se percebem fazendo parte de um jogo sutil da mente, fazendo arte para outros artistas, uma arte incapaz de se comunicar com seres humanos comuns. Isso acontece em dança, música, teatro, pintura, etc. Periodicamente, em todas as artes, grandes artistas às vezes questionam os caminhos estéreis do excesso de formalismo e apontam para algum tipo de retorno às raízes. O músico Carl Orff, por exemplo, chamou ao tipo de música simples com que ele sonhava de ‘música elemental’:

        Música elemental jamais é apenas música: ela está ligada ao movimento, à dança e à língua, sendo, portanto, uma música que a própria pessoa deve tocar, na qual está envolvida como co-executante e não como ouvinte. Ela é pré-intelectual, não conhece nenhuma forma generalizada, nenhuma arquitetura; ela representa seqüências reduzidas, ostinati e pequenos rondós. A música elemental é terrena, natural, corporal e pode ser aprendida e vivenciada por qualquer um, até por crianças... Na música elemental, palavra, movimento, jogo, tudo o que desperta e desenvolve as energias do espírito formam o húmus da alma, sem o qual este acaba sofrendo um processo de erosão espiritual.

        Orff vê o perigo contido nas formas excessivamente sofisticadas: elas não servem mais à alma, levam à ‘erosão espiritual’. Cada tradição musical, como é natural, com o tempo se desenvolvendo em direção ao aprimoramento cada vez maior de suas formas. Ao atingir determinado nível, em geral as tradições se cristalizam em uma forma clássica imutável. Às vezes cabe a um leigo ver que o rei está nu e criar aquilo que é necessário para as pessoas num determinado momento. Dessa forma, Samuel Lewis redescobriu um caminho simples e fácil num tempo em que a arte, tão distanciada das pessoas, havia se tornado ocupação de especialistas. Esses especialistas aperfeiçoam durante anos habilidades extraordinárias para serem aplaudidos pelas pessoas comuns. E as pessoas comuns, por sua vez, adotando o papel de consumidoras, tornam-se adoradoras de ídolos, perdendo contato com suas necessidades de auto-expressão e aceitando implicitamente a idéia de arte da civilização de consumo: assunto de especialistas.

        Num interessante livro sobre o papel do ócio na cultura, Bertrand Russel refletiu sobre as formas de lazer do passado e as atuais. É interessante notar que, ao buscar um exemplo de lazer criativo, ele escolhe exatamente as danças camponesas, que tinham um papel semelhante ao que as Danças da Paz procuram reinventar:

        As danças camponesas desapareceram, salvo nas áreas rurais mais remotas, mas ainda devem existir na natureza humana os impulsos que as fizeram florescer. Os prazeres das populações urbanas se tornaram fundamentalmente passivos: ver filmes, assistir a partidas de futebol, ouvir rádio e assim por diante. Isso ocorre porque as energias ativas da população estão totalmente absorvidas pelo trabalho. Se as pessoas tivessem mais lazer, voltariam a desfrutar prazeres em que participassem ativamente. As diversões das modernas populações urbanas tendem a ser cada vez mais passivas e coletivas, consistindo na observação inativa das habilidades dos outros.

Com as Danças, Samuel Lewis criou uma forma de arte nova e extremamente simples, que pode ser praticada por qualquer pessoa, sem treinamentos especiais, pessoas que nem ao menos em qualquer outra circunstancia diriam que são capazes de cantar ou dançar. Ao conduzi-las através do movimento e do canto, as Danças as introduzem diretamente numa atividade que é um dos componentes essenciais do processo de educação das Escolas Sufis. Através das Danças, pessoas comuns podem experimentar antigas tecnologias de transformação e ter vivências de níveis de consciência que sozinhas elas dificilmente alcançariam.

 

A Música no trabalho Sufi

        Cada uma das Ordens Sufis se especializa numa maneira de trabalhar o ser humano. Algumas vezes, o nome pela qual elas são conhecidas fala de sua forma de trabalhar. Existem os ‘criadores de impressões’ ou ‘pintores’, os ‘rodopiantes’, os ‘músicos’, etc. Os ‘músicos’ são os Sufis da Índia, da Ordem Chishtia, fundada por Moinnuddin Chishti.  Tendo por base sua experiência com a música clássica Indiana e seu aprendizado na Ordem Chishtia, Inayat Khan assim descreve o papel da música no treinamento de seres humanos equilibrados:

        O objetivo da Música Indiana é o treino da mente e da alma, pois a música é o melhor método de concentração. Quando pedimos a uma pessoa que se concentre num determinado objeto, o simples fato de tentar concentrar-se faz com que sua mente fique mais perturbada. A música, no entanto, que exerce atração sobre a alma, mantém a mente concentrada. Se apenas soubermos como apreciá-la e como dar-lhe nossa mente, mantendo todas as demais coisas fora do jogo, desenvolveremos nosso poder de concentração.

        Esse é aspecto mental, mas, no Sufismo, tão importante quanto ele é a dimensão emocional, que Inayat Khan descreve assim:

        Além da beleza da música, há, ainda, a ternura, que traz vida ao coração. Para uma pessoa de sentimentos educados, de pensamentos equilibrados, a vida neste mundo é muito dura. É conflitiva e, algumas vezes, tem um efeito enregelante. Faz com que o coração, por assim dizer, congele... Se pudermos focalizar nosso coração na música, isto funcionará como algo que vem aquecer o que está congelado. O coração volta à sua condição natural e o ritmo regula suas batidas, o que ajuda a restaurar a saúde do corpo, da mente e da alma, trazendo-os à sua verdadeira afinação. A alegria de viver depende da perfeita sintonia da mente e do corpo. (Música)

 

A Voz

        Inayat Khan considerava a voz humana o mais profundo de todos os instrumentos musicais. Nas Danças, é a voz o fundamental. Para Samuel Lewis o canto das palavras sagradas é sempre o aspecto mais importante. Admitem-se variações nas coreografias, mas a frase sagrada não deve ser modificada. Podem-se utilizar tambores, violões e flautas, mas nunca os músicos tocam para que os dançarinos dancem, pelo contrário, o músico deve acompanhar o andamento da frase sagrada, deve sintonizar-se com o círculo e amplificar através da música aquilo que as vozes expressam.

        Essa ênfase no canto é uma característica marcante nas Ordens Sufis que se originaram de Inayat Khan. É encarada como um recurso importante no desenvolvimento do ser e está muito distante do canto convencional de hoje em dia. Segundo Inayat Khan, hoje, ‘a arte de cantar tornou-se a mais artificial possível. Toda a idéia moderna é treinar a voz e fazê-la diferente do que é ao natural. O treinamento da voz não procura desenvolver o que é natural nela. Na grande maioria das vezes consiste em manifestar alguma coisa que não lhe é natural. Portanto, quando uma pessoa canta de acordo com os padrões de sua época, ela fica com uma voz que não é a sua verdadeira. Pode obter grande sucesso, pode ser ouvida por milhares de pessoas, mas, ainda assim, não estará cantando com sua voz natural’.

        Como tudo mais no Sufismo, o objetivo não é desenvolver capacidades extraordinárias, e sim adquirir um estado equilibrado e harmonioso de ser. A conquista de sua verdadeira voz, quando ela já foi desviada de seu caminho natural, é um dos componentes desse processo. Ainda Inayat Khan:

        A voz não é apenas a indicação do caráter do homem, mas também a expressão de seu espírito. A voz não é apenas audível, mas também visível para aqueles que podem vê-la. Ela causa impressões nas esferas etéreas, impressões essas que podemos classificar audíveis, mas que também são visíveis ao mesmo tempo. Em todos os planos a voz causa uma impressão e aqueles cientistas que fizeram experiências com o som e obtiveram impressões causadas pelo mesmo sobre placas, descobrirão, algum dia, que a impressão da voz é mais profunda e de maior efeito que a de qualquer outro som. Os outros sons podem ser mais altos que a voz, porem nenhum som pode ser mais vivo. Sabendo disso, os indianos dos tempos antigos afirmavam que o canto era a arte primeira, sendo a execução de instrumentos a segunda e a dança a terceira, todas perfazendo a Música. Tendo descoberto que através desses três diferentes aspectos da Música pode-se atingir a espiritualidade de uma forma mais rápida do que por qualquer outra, chegaram à conclusão que o caminho mais curto para atingir as esferas espirituais era o canto.

        Inayat Khan se refere a pesquisas com impressões sobre placas realizadas no início do século XX. Há poucos anos, o Dr. Masaru Emoto realizou uma pesquisa realizada sob todos os critérios científicos de verificação com moléculas de água que comprova as intuições de Inayat Khan. Usando orações e frases de diversos tipos, Emoto e seus colaboradores, durante oito anos cristalizaram e fotografaram as moléculas de água, obtendo resultados surpreendentes.

 

Os Mantras

        As Danças principais são as que usam mantras. Existem também danças com frases nas diversas línguas atuais, mas as danças mântricas são consideradas as mais profundas e mais afinadas com as tradições. Usam-se mantras de todas as tradições, Om Mani Padme Hum, Kirye Eleison, Iemanjá o Ia, La ilaha il Allah, etc.

        As línguas antigas, como o sânscrito, o aramaico, o chinês, o hebraico, o árabe e muitas outras, são extremamente sintéticas. Basta comparar uma frase escrita em uma dessas línguas com suas traduções para uma língua como, por exemplo, o português, para notar um fato importante: as traduções são muito maiores que o original. E em geral, não são tão adequadas para o canto continuo e circular como mantras. Mesmo sem qualquer outro conhecimento lingüístico, podemos experimentar cantar ‘Kyrie Eleison’ e depois cantar ‘Senhor Jesus Cristo, tende piedade de nós’, que é sua tradução. Não será difícil verificar que são muito diferentes as frases em sua sonoridade. Assim, uma primeira aproximação dos mantras, mesmo para quem não tem qualquer conhecimento do tema, demonstra que eles são mais fáceis de cantar e mais harmoniosos. Mas eles são mais que isso.

        De acordo com o Lama Anagarika Govinda, os mantras são sons primevos, são símbolos arquetípicos da palavra. São sons primevos que expressam sentimentos e não conceitos; afeições e não idéias. Dos bijas, as sementes germinantes dos mantras surgiu a linguagem. Dos próprios mantras nasce a linguagem. Segundo Govinda, a análise de um mantra – sua interpretação intelectual – revela apenas sua função de ‘apoio’: ‘Assim como uma partitura musical escrita não consegue transmitir a impressão espiritual e emocional da música tocada ou ouvida, da mesma forma... a análise intelectual de um mantra não transmite a vivência de um iniciado, nem revela seus efeitos profundos, que só são obtidos mediante uma prática persistente e duradoura. A atitude não pode ser intelectual, deve ser a de uma criança, envolvida no encantamento de um jogo. É como se fossemos buscar o encantamento no fundo da memória. É um pouco diferente para cada pessoa que usa e pode mudar cada vez que é usado. As palavras não importam tanto, e sim as realidades para as quais são a chave. E não basta simplesmente dizer as palavras, elas são apenas um ponto de partida, um processo mnemônico para catalisar uma transformação no espírito.

        No estado cotidiano de consciência, quando realizamos tarefas rotineiras, deixamos inumeráveis aspectos da consciência vagar livres em torno do que ocupa nossa mente no momento. No trabalho com os mantras, a idéia é redigir alguns desses aspectos bem específicos para aquilo que estamos fazendo. Esses aspectos são capazes de alterar todo o sentido da experiência. Um deles é a intenção. Se as palavras que estamos dizendo significam alguma coisa, vamos do significado literal daquilo para seu significado. Esse significado é um estado de consciência. Não são as palavras em si mas o estado de ser que importa. Mas esse estado deve ser mantido, a mente não deve vagar sem disciplina em torno de outros assuntos. Isso significa que não estamos trabalhando com palavras apenas, nós as usamos com uma determinada intenção. Intenção é a energia por trás do som que está sendo emitido. É a consciência que temos  quando estamos emitindo um som. Quando estamos focalizados naquilo que fazemos no momento presente, se temos consciência da intenção, ela altera os potenciais da realidade, ela dirige o rumo das coisas.

 

Repetição e Circularidade

        No trabalho com mantras usam-se formas circulares, repetindo-se incessantemente as mesmas palavras. Círculos não ocorrem apenas no espaço, mas no som; criar círculos sonoros é seguramente uma das formas mais intuitivas de fazer música. Enquanto a notação musical permite gêneros épicos, como a sinfonia, a ópera, o concerto, que se desdobram no tempo linear, a musica de tradição oral sempre favoreceu formas cíclicas e circulares. Essas formas circulares são um aspecto venerável da música do ocidente, e também das grandes tradições musicais do Oriente, onde ritmo e melodia são freqüentemente concebidos em períodos circulares.

        Isso permite ultrapassar o sentido original das palavras e acessar outras dimensões de experiência. A respiração, que em si já é circular, torna-se assim mais importante. Inalamos e exalamos continuamente num ritmo que atravessa toda a duração de nossa vida. A plena consciência do ritmo circular da respiração é uma das práticas mais universais das tradições espirituais. Em todas as tradições, existe o uso do canto para dar voz ao ritmo da respiração. Isso permite sincronizar a respiração de indivíduos em um ritmo coletivo. Essa sincronização pode evocar um poder muito grande. Em condições corretas esse poder coletivo pode ultrapassar o poder do ego e criar uma abertura através da qual as pessoas podem se conectar com forças maiores que as delas mesmas. Quando essas forças estão imbuídas com o espírito do Divino, o canto assume a qualidade da música sagrada.

 

Estados de Consciência

        A ciência e a cultura ocidental em geral negligenciaram a vivência e o estudo dos estados não comuns de consciência. Com sua ênfase em racionalidade e lógica, conferiam grande valor ao sóbrio estado mental cotidiano, relegando todos os outros estados de consciência ao setor de patologia inútil. É necessário estar sempre sóbrio para ‘trabalhar e produzir’. Nesse aspecto, a posição da cultura Ocidental é exclusiva e única em toda a história da humanidade, pois todas as outras culturas de todos os tempos, com exceção da nossa, sempre conferiram grande valor aos estados não comuns de consciência. As culturas tradicionais sempre devotaram uma grande quantidade de tempo e esforço individual e coletivo na busca desses estados. Atribuíam a eles um valor inestimável como instrumentos para fortalecer seus vínculos uns como os outros, com a natureza e com as realidades sagradas. Também usavam-nos para identificar doenças e propiciar curas, como fontes de inspiração na arte e também como propiciadores de sinais importantes na própria orientação da vida de cada um. Todas as outras culturas investiam grande parte de seu tempo e esforços na busca e desenvolvimento de tecnologias de mudança de consciência e usando-as com regularidade em diversos contextos rituais. A repressão desse aspecto da existência humana gerou o fenômeno que Jung descreveu como os antigos deuses se transformando em neuroses, os sonhos nos piores pesadelos.

        No entanto, esses estados do ser jamais deixaram de existir. O ser humano precisa deles mais do que de pão, pois sem eles sua vida se torna uma vida de autômato, escravizado às rotinas e ao trabalho ‘socialmente útil’. Inayat Khan dizia que o acesso a esses estados nunca se fechava e dos inúmeros meios de acessa-los, o mais profundo para ele era a música:

    Perguntar-se-á: ‘como se pode chegar mais perto dele?’ O caminho encontrado por aqueles que procuraram a Verdade, por aqueles que desejaram chegar a Deus, pelos que se analisaram e quiseram afinar-se com a vida, é apenas um: o caminho das vibrações. Funciona hoje como antigamente: eles se preparam pelo auxílio do som. Eles fizeram com que os átomos que tinham morrido vivessem outra vez por meio do som, trabalharam pela força sonora. Como afirmou Zeb-um-nissa: ‘Pronunciai continuamente aquele nome sagrado que vos tornará sagrados’. Os Hindus deram a isso o nome de ‘mantra yoga’ e os Sufis denominaram-no ‘wazifa’. É o poder da palavra que trabalha sobre cada átomo do corpo, tornando-o sonoro e transformando-o sonoro e transformando-o num meio de comunicação entre a vida externa e a interna.

        Os diferentes estados de consciência são a porta para o que Inayat chama ‘a vida interna’. Em geral estamos, como conseqüência do tipo socialização que recebemos, permanentemente no mundo exterior, aquele que nos treinaram para reconhecer. Aí vivemos a maior parte de nossas vidas. No entanto o mundo interior está sempre presente. Na forma de lampejos de lembrança, pequenas mudanças de estado, momentos de devaneio, a visão de uma paisagem, o brilho de um raio de sol, podemos a cada momento deslizar momentaneamente para outro estado. Mas em geral é preciso questionar a ordem implantada em nós que diz para o tempo todo ficar consciente, racional, continuar a construir o mundo como fomos ensinados, como um mundo ‘real’, objetivo, fora de nós. Quando ficamos prisioneiros desse estado único, exclusivo, que é a ‘Matrix’, os resultados são, além de um sofrimento infindável, os diversos tipos de enlouquecimentos que vemos hoje. Mas ainda que os problemas sejam muitos, a saída é uma só, e ela começa no interior. E o mundo interior não é um mundo intelectual, ele é uma continuidade com todos os seres. Não é um mundo de isolamento em seu próprio intelecto. É um mundo mental, mas ele inclui todos os seres pois todos estão na Mente. Como continua descrevendo Inayat Khan:

        O que se torna consciente na primeira experiência daquele que se desenvolve espiritualmente, é que ele começa a se sentir em comunhão com os seres vivos, não apenas com os seres humanos, mas com os animais, os pássaros, as árvores e plantas. Não é conto de fadas a história de que houve santos que falavam com árvores e plantas. Você pode, hoje, falar com elas, se entrar em comunhão. Não foram apenas os tempos antigos que foram abençoados com esse antigo dom. A velha benção não envelheceu em nossos dias. Ela continua nova. É a mesma que foi, que é e que será e nenhum privilégio foi jamais limitado em qualquer período da história do mundo.

        Essa linguagem pode parecer muito romântica, e é. O problema é que considerar românticas essas coisas é um comando social implantado em nós, de que devemos nos desfazer para recomeçar a caminhar. Naquilo que nossa cultura chamou romântico, existe todo um mundo esqueci a reconquistar. É como a alquimia: ‘trabalho de mulher, brincadeira de criança’, mas por traz dele, fabrica-se ouro. Se você não tem tempo para isso, engana-se, sempre há tempo para aquilo que está sempre presente, pois é a própria natureza das coisas.

 

O impacto das danças nas pessoas

        As Danças são um instrumento coletivo muito simples e acessível para a intensificação dos estados de consciência e a facilidade de participação é um de seus aspectos marcantes. Seu caráter lúdico facilita um acesso gradual ao uso das tecnologias da consciência. Através do jogo, da brincadeira, reaprendemos passo a passo a relaxar o suficiente para aceitar os inumeráveis estados de ser. Um estado de leveza corporal e mental facilita as coisas.  A simplicidade das formas permite a leveza. Passos e música fáceis, imagens inspiradoras, mas simples, tudo isso facilita a entrega. À medida que o círculo se forma e as danças vão se sucedendo, podemos ver como as faces se relaxam, os olhos suavizam, as desconfianças se dissipam. No intervalo entre as danças, as pessoas se dirigem mais espontaneamente umas às outras, com mais simpatia e confiança. O estado de consciência vai se transformando e, dependendo do tipo de encontro, pode atingir níveis bastante profundos. É diferente se são uma ou duas danças, uma sessão de duas horas, uma vivências de fim de semana, ou de uma semana inteira em regime residência. Quanto maior o tempo e a convivência, mais o processo se aprofunda.

        Nesses encontros mais longos é que se manifesta o real potencial das Danças para a transformação pessoal. Depois de alguns dias de convivência intensiva, utilizando todas as modalidades e materiais de trabalho – danças, caminhares, meditações, canto, partilhas, trabalho coletivo – é freqüente que venham à tona passagens pessoais de cada um. O mergulho repetido nos estados intensificados de consciência muitas vezes traz para a consciência conteúdos internos que não estavam em foco. O círculo e a convivência de grupo fornecem o contexto e o suporte para essas passagens. As pessoas oferecem umas às outras um suporte espontâneo e sincero baseado na simples solidariedade, mas muito eficiente. É claro que tudo que acontece ali terá que depois ser levado para a vida, mas esses espaços de ‘laboratório’ são essenciais para fazer eclodir as gestalts inacabadas da vida de cada um. Dessa forma, as danças evocam estados muito profundos de consciência e fornecem o contexto para que sejam trabalhadas pela própria pessoa, com o suporte daquelas que ela escolher para acompanhar, as situações evocadas. Encontros mais longos é que se manifesta o real potencial das Danças para a transformação pessoal. Depois de alguns dias de convivência intensiva, utilizando todas as modalidades e materiais de trabalho – danças, caminhares, meditações, canto, partilhas, trabalho coletivo – é freqüente que venham à tona passagens pessoais de cada um. O mergulho repetido nos estados intensificados de consciência muitas vezes traz para a consciência conteúdos internos que não estavam em foco. O círculo e a convivência de grupo fornecem o contexto e o suporte para essas passagens. As pessoas oferecem umas às outras um suporte espontâneo e sincero baseado na simples solidariedade, mas muito eficiente. É claro que tudo que acontece ali terá que depois ser levado para a vida, mas esses espaços de ‘laboratório’ são essenciais para fazer eclodir as gestalts inacabadas da vida de cada um. Dessa forma, as danças evocam estados muito profundos de consciência e fornecem o contexto para que sejam trabalhadas pela própria pessoa, com o suporte daquelas que ela escolher para acompanhar, as situações evocadas.

 

DANÇARINOS DA PAZ

MÚSICA, CORPO E LINGUAGEM