APRENDIZ DE JORNALISTA
JORNAL ON LINE LABORATÓRIO UFRN FEVEREIRO 2003


Preservar o meio ambiente, ou dar um fim à economia do estado?

 

     Natal, conhecida internacionalmente por suas belezas naturais, além de diversas praias e belíssimas dunas, “a cidade do sol” oferece para quem aqui habita ou visita, “o ar mais puro das Américas...” Apesar de dispor de variados aspectos positivos, há porém, e não se pode negar, problemas de cunho ambiental decorrente do crescimento turístico da cidade, em função da construção de hotéis, ditos de grande categoria, localizados especificamente, na Via Costeira.

     Fundada no final da década de 70, a Via Costeira pode ser considerada mais um dos principais pontos turísticos de Natal. Apoiado pela “extinta” SUDENE, o projeto Parque das Dunas-Via Costeira, trazia na sua essência a proposta de alavancar o turismo de massa no Rio Grande do Norte, considerado como vetor importante para o desenvolvimento local associado à preservação da natureza. Atualmente as coisas mudaram... A proposta aparenta ser outra! A preocupação em obter o capital proveniente do setor turístico-hoteleiro, supera as preocupações, as quais deveriam ter autoridades e grandes empresários, com a preservação ambiental da cidade. Veja o que disse o ex-governador Garibaldi, em um jornal de grande circulação da cidade: “Precisamos sim, aumentar o número de hotéis aqui na cidade, já que precisamos atender a grande demanda de turistas que vêm, todos os anos, à Natal”.Como se observa, o bem-estar dos que vêm de fora e o capital em que deles “atraem”, são aspectos mais importantes, se comparado ao meio ambiente e a qualidade de vida de seus habitantes residentes, aqui mesmo, nesta cidade...

    Segundo comentário feito pelo Promotor de Justiça ambiental do Rio Grande do Norte, João batista Machado Rocha, Poucas pessoas sabem que estas construções de hotéis na Via Costeira, mesmo obedecendo ao planejamento urbano da cidade, ou melhor, cumprindo as normas estabelecidas pelo “plano Diretor”, trazem malefícios ao meio ambiente... “Além da devastação de áreas para construção destes empreendimentos, é provado que muitos desses, praticam irregularidades, quando se trata de assuntos relacionados a saneamento básico. Hotéis luxuosos, ditos, de “nome”, os mais conhecidos e badalados da cidade, “jorram” esgotos no mar”... Afirma o Promotor. Embora pareça ser “o problema”, a realização dessas construções, o Promotor é a favor das construções de hotéis neste local, acesso que liga as praias de Areia Preta e Ponta Negra, no litoral sul de Natal.

 “Acho sim a Via Costeira, um local adequado para as construções de grandes hotéis. Não vejo esse fato, como algo prejudicial ao meio ambiente, desde que seja uma construção ordenada. Hoje o RN adquire o capital proveniente do turismo, se “barrarmos” seu crescimento no estado, como ficará a economia em Natal?”

São citações como essa, que nos fazem realmente pensar: o que devemos fazer...? Certamente, problemas como esses são camuflados... Autoridades têm o conhecimento, mas sublimam a situação... Esses casos... passam despercebidos pelos turistas, eles não têm o conhecimento do fato! Talvez a beleza e o conforto “desfrutado” por esses, façam com que os impeçam de enxergar o lado negro da estória, “o inferno atrás do paraíso”.Veja o que disse Priscila Ambrósio, psicóloga, turista vinda de SP: “Natal é lindo! Uma cidade ótima de se viver! Aqui é um paraíso! Estou num hotel de frente para o mar e me sinto em outro mundo...” Com certeza as coisas boas “vetaram” as coisas ruins, e é o que acontece com a grande maioria de turistas que vêm para esta cidade.

     Promotores juntos com a ajuda de Ongs, que já são mais de 100 existentes no estado, vem tentando dar as possíveis soluções para os problemas. Essas autoridades e grupos vêm agindo contra essas irregularidades de maneira pacífica, fazendo com que os próprios agentes causadores desses problemas, passem a contornar a situação dando-lhe uma possível solução!

    Sabe-se que o mercado do turismo em Natal é o “alicerce” e um dos fatores principais para o crescimento da economia Potiguar, certamente o predominante. Embargar construções de hotéis que prejudicam o meio ambiente seria um “caos” para a economia da cidade. As autoridades deveriam sim, se preocupar com o bem-estar da população natalense em 1º lugar, e procurar um outro sistema capaz de colocar-se no lugar do mercado de turismo, como fonte de capital para desenvolvimento da economia do RN. Mas o medo de se “arriscar” é o perigo! O dinheiro nesse momento, para o crescimento do estado, fala mais alto que a vida e o bem-estar da população... Conformarmos nesse momento é a solução!Ver de nossas janelas, “deitados em nossas camas”, o dinheiro entrando na cidade e pessoas se divertindo em nossas belíssimas praias, sem ao menos, recebermos ajudas de “superiores” para curarmos de conseqüências, defendidas e apoiadas por esses... É a única maneira de sofrermos calados! Já que as nossas vidas e o bem-estar de nossa população são colocados em último plano. O que fazer?


Para esclarecimento do leitor sobre este assunto, veja a seguir, a entrevista cedida pelo Promotor de justiça do Meio Ambiente do RN, João Batista Machado Rocha:

Revista - Você acha a Via Costeira um lugar adequado para as construções de hotéis de grande categoria, ditos, hotéis de luxo?

Promotor - Sim, absolutamente... Desde que seja uma construção ordenada dentro do planejamento urbano da cidade.

Revista - O senhor deve possuir informações a respeito de estragos ambientais causados pelo “jorramento” de esgotos no mar, como você analisa esse fato? E se ainda hoje, isso acontece?

Promotor - Sim .É uma pena que ainda continue acontecendo... Vejo esse fato, como um descuido de grandes proprietários... O que costumamos fazer para solucionarmos o problema, é mandar limpar o que sujar! Ou então, realizar algum movimento de conscientização popular, como foi feito há alguns meses atrás: um seminário realizado no hotel Pirâmide, relacionado à educação e meio ambiente. E para aqueles hotéis que não nos obedecem, levamos o caso para a justiça!  

Revista - Há alguns meses o “Hotel Pirâmide” cedeu seu espaço para a realização de um seminário que envolvia assuntos ambientais. Sabemos que foi um acordo realizado entre a Promotoria do meio ambiente e proprietários do hotel. O senhor poderia esclarecer como se deu esse “pacto”?

Promotor - Sim, claro! O seminário foi realizado como um “pacto” entre a promotoria do meio ambiente e proprietários do hotel. Visto que, tomamos o conhecimento do caso, realizamos um pacto! Pacto em que o próprio causador do estrago ambiental, no caso o hotel Pirâmide, devido ao fato de “jorrar” esgotos no mar, ele mesmo dê a solução ao problema! Mostrando seu erro para a população... Caso contrário, o descumprimento do pacto, a situação será resolvida na justiça!Daí a realização desse seminário nesse estabelecimento...

Revista- Existem processos em andamento, que envolvem hotéis que realizam esta prática de “jorrar” esgoto no mar, e ou, que ocupam espaços destruindo ecossistemas para novas ocupações desses?

Promotor -Sim, existem ações...

Revista - Para você, qual seria a solução, se existe, para a construção de determinados “empreendimentos” sem por risco, ou melhor, sem prejudicar o meio ambiente neste local, a Via Costeira?

Promotor - Deveria haver sistemas de fiscalização por parte do município.Um Estado eficiente, que pudesse detectar determinados futuros problemas...Fiscalização eficiente seria a solução!

Revista - Na sua opinião, o que deveria fazer o Governo e a iniciativa privada, para conscientizar a população civil a respeito da questão ambiental?

Promotor - Deveria, o Governo, realizar um sistema de educação ambiental e ética ambiental (Consciência que devemos ter que, “o planeta é a nossa casa”).

Revista - A especulação imobiliária é muito grande hoje em Natal, e como podemos perceber que existem “falhas” na fiscalização dessas obras irregulares, por parte de órgãos “competentes”; na sua opinião, não falta uma consciência da população no que diz respeito ao coletivo e na qualidade de vida de seus moradores?

Promotor - Sim, com certeza falta conscientização! As pessoas não têm consciência da importância que a cidade tem para nós, seus habitantes...

Revista - O que faz o plano “Diretor”, em relação ao meio ambiente e a construção civil em Natal?

Promotor - O plano “Diretor” estabelece padrões, e é , a partir desses padrões, que podemos construir uma cidade. Esta é a relação!


Igor Andrade, José Eudes, Francisco Glauber e Katiúscia Fernanda (Radialismo)