APRENDIZ DE JORNALISTA
JORNAL ONLINE LABORATÓRIO DO DECOM/UFRN


Turismo Sexual
Repórter: Bárbara Holanda Editora: Tatiana Silvestre

O turismo indubitavelmente é a atividade econômica de fundamental e até mesmo de principal importância que possibilitou o intenso desenvolvimento de Natal na última década, na medida em que proporcionou a urbanização da cidade e contribuiu, através da construção de equipamentos turísticos, para a melhoria da qualidade de vida da população local e para a geração de novos empregos, além de ser ele também o responsável pela injeção de cerca de 300 milhões de reais na economia local. Entretanto, apesar da imagem de natal ser construída muito mais pelo esforço do Governo do estado e da prefeitura para valorizar suas belezas naturais e a infra-estrutura advindos dessa atividade econômica, há um lado tenebroso desse turismo que envergonha a cidade: a prática por pessoas inescrupulosas do lenocínio para turistas, ou seja, há pessoas que facilitam, direta ou indiretamente, a ação de prostitutas ou prostitutos junto a turistas, na grande maioria, estrangeiros que desembarcam nesse município turístico.

Não se pretende culpar aqui o turismo como causa da prostituição em Natal, até mesmo porque ela sempre existiu e com ou sem turista ela vai continuar existindo. Entretanto o que se constata é um incremento dessa prática a partir do desenvolvimento do turismo na cidade.

Talvez o termo adequado para essa prática não seja “turismo sexual”, visto que, como afirma Paulo Lopes, assistente do secretário de turismo do município, não há nenhum pacote de agência de viagem brasileira ou estrangeira apresentando Natal como paraíso sexual, característica principal do turismo sexual. Adequaria-se melhor aqui “prostiturismo”, termo que mais se aproxima do que realmente ocorre em Natal, pois o que há é uma situação em que a prostituição torna-se uma atividade mais lucrativa quando se tem por clientela os turistas estrangeiros. As prostitutas e prostitutos preferem os turistas por faturarem mais por programa, por serem melhor tratadas, por eles criarem neles expectativas de um relacionamento mais duradouro, por uma evasão psicológica da miséria, ou não, e da situação de pobreza em que vivem. Mas isso não quer dizer que essas pessoas “trabalham” exclusivamente para turistas, pois ainda não estão submetidas a um agenciamento profissional para uma clientela independente de sua vontade. Pelo contrário, para elas “o que cair na rede é peixe”, ou seja, saem com quem estiver disposto a pagar. Porém, como se concentram impreterivelmente próximas a equipamentos turísticos, é contundente admitir que se esse “peixe” for um turista, melhor ainda para elas.

Apesar de não existirem provas concretas, dados numéricos específicos para se poder afirmar e assim comprovar que existe na cidade uma rede integrada a serviço da prostituição para estrangeiros, como ressalta Keyla Brandão, professora do curso de Turismo da UFRN e coordenadora de um projeto de pesquisa não concluído por falta de verba, exemplo de que continua faltando prioridade ao combate do problema por parte dos órgãos oficiais, sobre o turismo sexual em natal, as evidências mostram que o “prostiturismo” existe e é fomentado por uma rede não organizada que alicia, principalmente, “meninas” para turistas estrangeiros, que visitam Natal ávidos não só pelo prazer de desfrutar das belezas naturais mas também por “sexo exótico”, não encontrável nas prostitutas européias.  Evidências estas encontradas nos classificados dos jornais e até mesmo em vias públicas por onde famílias locais e turistas circulam, tornando-se assim um atentado ao pudor, à moral e aos bons costumes a forma explícita que se dá este fenômeno. Se, por um lado a existência de relações entre o turismo e a prostituição é evidente para qualquer pessoa que passe a qualquer hora pela Av. Engenheiro Roberto Freire, Praia do meio e outros, autoridades governamentais tendem a se esquivar do problema, ora negando-o, ora fugindo à responsabilidade de, pelo menos, atenuá-lo. A questão é que existe o problema mas é preferível tapar os olhos, jogando a culpa do problema para as mãos de outros.

O grande problema também é a falta de organização dessa prática. A prostituição, como é bem conhecida, é uma atividade muito antiga e é praticamente impossível fazer com que ela deixe de existir por mais severas que sejam as leis. Entretanto, deixar isso da forma explícita que se encontra aqui em natal em lugares frequentados por turistas é um absurdo, além de sujar a imagem da cidade. Deveria-se, portanto, pregar, como sugere Paulo Lopes, a volta das “Marias Boas”, lugares que reunissem essas prostitutas, pois só assim os turistas que escolheram Natal para curtir o sol e o mar, a grande maioria, não se sentiriam tão constrangidos e horrorizados com o que vêem nos acessos às principais praias da cidade.

Mesmo não havendo propagandas oficiais apresentando natal como uma região propícia para a prática do turismo sexual, a propaganda mais eficiente no turismo é feita “boca-a-boca” e não a veiculada pela mídia. Então, o turista vem para cá motivado por sexo e quando volta e sabe de alguém que pretende viajar com esses mesmos fins, ele indicará a cidade que já visitou e achou propícia para atingir seus objetivos devido às facilidades que ela apresenta. Além do que, uma parte considerável dos turistas que aqui desembarcam são trabalhadores europeus que ganharam a viagem como bonificação por sua produtividade na empresa em que trabalham. O nordeste brasileiro é um destino muito atrativo pois além da moeda européia ser mais forte, o que barateia os custos dos turistas aqui, também encontram-se aqui “belezas” escassas na Europa.

Não só Natal, como a maioria das outras capitais nordestinas, destacam-se como campo fértil para o afloramento dessa prática, visto que aqui a situação de pobreza e miséria é muito crítica e aliada a isso uma forte crise de emprego assola a população, potencializando assim a prostituição. Então as “meninas” e os “meninos” vêem-se diante de uma alternativa, de uma opção não muito digna mas única para promover suas existências. Algumas dessas pessoas que fazem programa com estrangeiros, que custam em média de R$ 100,00 por coito, possuem roupas de grife, fazem ginástica em academias da moda, estudam em universidades particulares, usufruem de celular, carro importado e muito mais. O turismo, então, cria esse problema, potencializa a questão da prostituição, e por isso vê-se necessário que se tome os devidos cuidados para que isso não aconteça. Uma ação conjunta da Secretaria de Segurança, da Secretaria de Turismo, da sociedade e dos órgãos públicos seria o ideal. É preciso um trabalho cuidadoso de repressão a essa prática com a tomada de medidas urgentes e profícuas para reverter essa situação, sob pena de tornarem-se cúmplices na indução do prostiturismo no estado.


Repórteres: Mark Wynkler & Breno Xavier Editor: Ana Cláudia  

Tomamos coragem e ligamos para uma garota de programa que vende seus “préstimos” pelos classificados de um jornal local. Seu nome: Sílvia. Marcamos um encontro em um lugar que ela combinou. Ao chegar, tomamos um chá de cadeira de 40 minutos. Quando já estávamos para desistir, ela surge, sensual, do nada. Senta-se, cruza as pernas e pergunta se pode fumar um cigarro. Aproveitamos a deixa:

AJ – Você sempre fuma quando está nervosa?

Sílvia – E quem disse que eu estou nervosa?

AJ – Cigarros Importados?

Sílvia – Claro. Só fumo os melhores. Tenho que manter a classe. Sou universitária, você já sabe disso; graças a Deus nunca faltou dinheiro pra nenhum dos meus vícios.

AJ – E quantos vícios você tem?

Sílvia – Quantos você que que eu conte?

AJ – Por que você topou a entrevista conosco?

Sílvia – Primeiro por que eu estou no comando. Segundo porque vocês são universitários e tal, como eu, e temos que nos ajudar. Além disso, tem o fato de eu ter gostado da proposta de abrir um pouco a vida das meninas. Falam muita coisa por aí. Falam que roubamos os caras. Falam que temos doenças. Falam mil coisas. Tudo mentira. Tudo sacanagem.

AJ – É verdade que existe uma hierarquia entre vocês?

Sílvia – Isso tem em toda parte da vida. Há as meninas menores, o baixo clero, que ficam pela praia do meio, caçando qualquer um. Algumas, como eu, não fazem assim. Não vamos atrás de nada, são vocês que vêm até nós. Freqüentamos os melhores ambientes e somos amigas das pessoas importantes.

AJ – E a possibilidade de alguém descobrir? Nunca ocorreu esse tipo de pensamento?

Sílvia – A possibilidade existe sim, mas sempre tem os truques pra dificultar isso. Quanto tempo eu passei contigo pelo telefone? Uns 40 minutos? Dá pra sacar algumas informações da pessoa. Eu noto quando o fulano está mentindo. Nesse caso não marco nada, nem apareço. Mas a possibilidade existe. Eu me acostumei com ela.

AJ – Que tipo de pessoa você prefere para realizar um programa?

Sílvia – Turista.

AJ – Por que?

Sílvia – Paga melhor e tem a vantagem de que nunca mais nos veremos. O turista paga mais caro pelo mesmo serviço que faço pros outros. Além disso tem sempre a possibilidade dele gostar e querer levar pra o país dele, sei lá.

AJ – Qual o melhor turista: o americano, o italiano ou o sueco?

Sílvia – Os americanos são todos uns gordos flácidos. Pagam bem, mas são feios. Os italianos são mais quentes. Gosto deles. Já os suecos eu não sei bem porque nunca fiz programa pra eles.

AJ – Quanto custa um programa com você?

Sílvia – Depende  do que o cara deseje fazer comigo. O básico é R$ 100,00. Não saio de casa por menos que isso. Só não me pergunte quanto eu faturo por mês porque você vai querer mudar de profissão (risos).

AJ – E quanto é que você fatura?

Sílvia – Muito.

AJ – Algumas pessoas afirmam que há agenciamento das meninas em Natal. Você confirma isso?

Sílvia – Não sei se posso te responder isso. Existem as casas de drinks.

AJ – Vamos refazer a pergunta. Existe alguém agenciando meninas para uso exclusivo de turistas estrangeiros?

Sílvia – Que eu saiba não.

AJ – Existe um termo criado para descrever essa atividade que se dá entre o turismo e a prostituição, chama-se “prostiturismo”...

Sílvia – Como é que é?

AJ – “Prostiturismo”.

Sílvia – Conversa pra boi dormir, querido. Sexo há em qualquer lugar. Vai dizer que você nunca transou na vida? Esses termos são uma bobagem. Os caras vêm pra cá pra se divertir e isso inclui sexo também. Por que não? Tão normal. Pra usar uma expressão de uma amiga minha, nós somos os “bugueiros da cama”. Prestamos um serviço, só isso.

AJ – Prostituição é prestação de serviço?

Sílvia – Eu tenho realmente que responder essa pergunta?

AJ – Como você vê a prostituição infantil?

Sílvia – Que é que eu ou você podemos fazer? Não tá fácil, não, querido. Tem muita família por aí que precisa desse dinheiro até pra comer mesmo. Mas eu acho isso um horror.

AJ – Se um cara pedisse pra você fazer o programa sem camisinha em troca de muito dinheiro, você topava?

Sílvia – Quanto dinheiro?

AJ – Muito dinheiro!

Sílvia – Não. É bom estar viva para gastar tanto dinheiro assim.

AJ – Você gosta do que faz?

Sílvia – É uma fase. Só isso. É um trabalho, nada mais.

AJ – Então posso presumir que você entrou nisso pela grana?

Sílvia – É.

AJ – Você tem namorado?

Sílvia – Por que, quer namorar comigo? (risos) É uma coisa ou outra, querido. Não dá pra levar as duas coisas

Ao final da entrevista, Sílvia pediu para ligar quando a entrevista estivesse no ar. Se levantou e andou pela praia, elegante, mais sensual, e desapareceu... Deve estar nos classificados de algum jornal local.