APRENDIZ DE JORNALISTA
JORNAL ONLINE LABORATÓRIO DO DECOM/UFRN


TV X COMÉRCIO

 

Reportagem: Geórgia Luana e Romana Alves

Entrevista: Clarissa Menezes

Edição: Amanda Faia e Luanda Holanda

A televisão cada vez mais tem feito uso da jogadas de marketing para que a comercialização de seus produtos seja incontestavelmente um sucesso. É inegável que, dessa forma, ela influi na vida das pessoas, seja na maneira de vestir, falar ou nos padrões de comportamento.

Mas existe um grande perigo em relação às formas de consumo, em especial com as crianças. De fato, novidades como os Pokémons e os Telettubies estão cada vez mais presentes em lojas e bancas de jornais. Devido ao atual modelo de vida da sociedade, os pais que, em geral, trabalham fora de casa em período integral, acabam deixando a cargo da escola e da televisão a educação de seus filhos. A televisão, por sua vez, se encarrega de difundir entre essas crianças a idéia de necessidade de possuir esses lançamentos e os pais, constantemente pressionados pelos filhos, cedem e se encantam com o sorriso de satisfação. Mas não se dão conta do quanto essas atitudes irão pesar no orçamento familiar e nem que esse sorriso logo se transformará num pedido choroso de mais um brinquedo.

Além disso, os pais não percebem que, agindo dessa maneira, estão contribuindo para que as crianças acabem acreditando que seu valor está depositado nos bens materiais que possuem. E isso pode acarretar frustrações tanto para aqueles que têm seus desejos de consumo satisfeitos, por proporcionarem grandes chances de transformá-las em adultos neuróticos e incapazes de enfrentar a sociedade que as cerca, quanto para as crianças cujas famílias não podem atender aos seus apelos, pois diminuirão a sua auto-estima.

De acordo com a psiquiatra infantil Maria Cristina Lombardi isso ocorre porque o público infantil, em geral, não possui uma personalidade formada, lhes falta um grau de consciência mais elevada, não sabem, portanto, diferenciar o que é bom daquilo que não é, e não muito facilmente seduzidas pela mídia.

O ideal seria discutir o real valor das coisas com as crianças, como quantas horas de trabalho são suficientes para pagar o que se pede e possibilitar sua capacidade de escolha. Além da questão do consumo imposto pela TV, é necessário também deixar claro que em muitos outros aspectos esta vem deixando a desejar: cenas de violência e sexo em horários inadequados, enquanto a criança está em contato com a televisão, por exemplo. E estas acabam assimilando o cunho apelativo das danças, cenas e, sem noção, praticam atos de violência e precocemente afloram sua sexualidade. Se os meios de comunicação de massa influenciam a vida dos adultos de uma maneira tão direta, imaginemos o que acontece com as crianças... Se faz necessária uma maior fiscalização dos pais, da sociedade e das autoridades sobre o verdadeiro sentido do que se passa na TV, para que sejam tomadas as providências cabíveis, seja nos seus lares ou, até mesmo, em toda a sociedade.

Para melhor esclarecer a influência da TV na educação e na formação psicológica de crianças e jovens, conversamos com a Mestre em Educação do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Educação e Representação Social da UFRN, Isabel Cristina Miranda Pinheiro.

Repórter: Com a Indústria Cultural, os programas de TV se preocupam mais com o consumo que com o conteúdo. Como esses programas "enlatados", diversas vezes violentos ou com doses de pornografia, podem influenciar no desenvolvimento intelectual e emocional das crianças ?

Isabel Cristina: A TV estimula o consumo porque depende da indústria e do comércio que pagam regiamente a propaganda. Ultimamente está se tornando muito comum a propaganda de produtos ser incluída nas novelas. De tão continuada, ela chega tirando-lhe o direito de escolha. O potencial de cada criança pode ser denominado de maneira positiva ou negativa, dependendo do que for oferecido à ela. Com a freqüência com que são exibidos, a televisão está banalizando o crime e dando a linguagem pornográfica o aspecto de linguagem natural, do cotidiano. A abrangência universal e a existência de mecanismos de imitação pode induzir a essas práticas. A circulação exagerada de crimes violentos, por exemplo, leva o jovem telespectador a ver que o pratica ocupando espaço na TV e se tornando conhecido.

R.: Qual o papel dos pais e da escola para evitar que as crianças se tornem adolescentes e/ou adultos passivos diante da persuasão da mídia?

I.C.: Formar o telespectador crítico, reconhecendo a realidade de que a televisão se incorporou ao seu dia-a-dia, não adiantando proibições. Essas criticidade pode ser estimulada com conversas, leituras e acessos a outros meios de comunicação. Segundo Bucci* "Mais importante do que controlar o que a TV veicula diariamente é preparar o público, sobretudo os telespectadores mirins, a vê-la sem se submeter à ela. O importante é saber usá-la para a vida, sem ser usado por ela.

* Jornalista e crítico de TV, autor de livros como "O Peixe pela Boca" e "Brasil em tempo de TV".

R.: Há meios de barrar o consumismo excessivo daqueles que cresceram na frente da televisão e aprenderam a condicionar suas necessidades ao efeito-demonstração? Quais seriam?

I.C.: Sim. Chamamento à realidade sócio-econômico da família e ao momento financeiro que o mundo está atravessando. Também pode-se mostrar ao jovem que a propaganda não é tão verdadeira quanto parece e os produtos apresentados podem ser até nocivos.

R.: As crianças de baixa-renda podem ser emocionalmente prejudicadas pela discriminação e exclusão veiculadas nas propagandas?

I.C.: Podem, devido a consagração de um padrão de beleza que lhe é imposto e, muitas vezes, não é compatível com a sua realidade. Acrescente-se que a promessa de uma felicidade milagrosa pela compra e uso de determinado produto pode gerar frustrações.

R.: Na sua opinião, os programas educativos são coerentes com a realidade nacional?

I.C.: Há uma tentativa, estão melhorando. Na própria TV convencionalmente podemos tirar algumas mensagens educativas, por exemplo: no seriado MULHER - aceitação do deficiente, gravidez precoce etc.

R.: Você é a favor da censura para controle ético e moral das redes?

I.C.: Não.

R.: Se a número seis for positiva: não teme que tal medida beneficie a manipulação da informação por políticos, ou seja, o mau uso da medida?

I.C.: Seria um dos argumentos que justifica a resposta negativa à pergunta anterior.

R.: Considera a audiência uma boa balança para o controle de qualidade das programações?

I.C.: Não. Como as televisões são escravas do IBOPE e o contingente intelectualmente desfavorecido é mais significativo, os programas são produzidos para atingir essa clientela. Por exemplo: Ana Maria Braga foi levada a reformular a sua postura, linguagem, vestuário, que havia mudado ao ser contratada pela Globo, para reconquistar uma audiência da Classe C.