APRENDIZ DE JORNALISTA
JORNAL ONLINE LABORATÓRIO DO DECOM/UFRN


Entrevista: Sérgio Charlab                               Por Sheila Accioly


Fala, Mr. Web!

Ele chegou a estudar Engenharia, de onde vem sua paixão por computadores; hoje, é editor da revista Seleções do Reader's Digest. O jornalista Sérgio Charlab criou a edição web do JB (primeiro jornal brasileiro na rede), comandou a revista Internet World e escreveu dois dos primeiros livros em português sobre a rede: "O seu futuro Eletrônico - a revolução da informação" e "Você e a Internet no Brasil". 


Como você usa a Internet hoje no seu trabalho?

Eu trabalho numa empresa grande que também tem ramificações em outros países. Todos os editores de cada revista estão sempre em contato, através da rede da própria empresa e também da Internet. Mesmo quando eu penso que não estou usando, sempre uso, seja para mandar dados, receber uma matéria, conversar com repórteres que estão trabalhando com texto, fazer uma pesquisa...
 

Que futuro a rede promete para os jornalistas?

A missão do jornalista continua com ou sem Internet, ou seja, a gente precisa apurar uma notícia, precisa saber consultar as fontes de apuração. Isso é o básico que, com ou sem Internet, permanece.
O que a Internet facilita é a disseminação do que a gente faz. Antigamente, a gente tinha o trabalho de apuração comprado por uma grande empresa, jornal, revista ou Tv. Hoje, podemos ver jornalistas trabalhando independentemente, distribuindo de uma maneira razoavelmente econômica o material produzido, pela rede. Então, eu prevejo um futuro muito bom para os jornalistas, a partir da Internet.
 

A comunicação de massas está mesmo fora da Internet?

O que me parece interessante é que, antigamente, se eu, você e outros amigos nossos decidíssemos montar um jornal, a gente ia ter que entrar em negociação com uma gráfica, ia ter que imaginar uma maneira de distribuir esses jornal, eventualmente mandar por kombis, caminhões. O investimento para toda essa operação funcionar era quase inacessível. A gente ia a uma grande empresa já existente para se empregar nela, porque este é o tipo de trabalho que se imaginaria ser um único possível para o jornalista. Hoje em dia, não. Eu posso me associar com você e uma terceira pessoa e fazer um jornal de turismo no Rio Grande do Norte. Esse pequeno jornal, em inglês, português, francês e espanhol poderia ser viável economicamente. Não seria nunca uma grande empresa, um grande jornal na cidade, mas seria grande o suficiente para remunerar adequadamente o nosso trabalho. Então, eu acho que a escala de um empreendimento pode mudar, pode até ficar menor, mas pode valer a pena trabalhar em menor escala do que numa grande empresa.
 

O que um estudante precisa aprender para praticar o jornalismo na rede?

Todo jornalista, ainda na faculdade, tem obrigação não só de usar a Internet, mas os programas. Tem que saber usar uma planilha de computador, um banco de dados. Por que isso? Porque o trabalho do jornalista online não é só botar uma palavra no Alta Vista ou no Cadê? e procurar por algo. Ele tem que saber trabalhar com os dados que pode receber na apuração. Se você fizer uma matéria a respeito de acidentes no Ano Novo e o atendimento nos hospitais de emergênvia em sua cidade, você não precisa depender dos números que a pessoa te der como declaração, você pode pedir os dados do computador do hospital e fazer as suas próprias tabulações. Pode descobrir não só quantas pessoas foram atendidas, mas também quantas vieram do interior do estado, quantas foram vitimadas por tiro e quantas por fogos de artifício. Você tem liberdade de fazer associações e descobrir notícias interessantes do que se você recebesse apenas uma declaração pronta.
Então, o jornalista tem que usar os programas, a Internet, e tem que tomar muito cuidado para não achar que a rede vai dar as respostas. Não pode deixar de fazer aquilo que é básico na nossa profissão, que é checar cuidadosamente toda informação que obtivermos.
 

O correio eletrônico é válido como meio para entrevistas?

Embora todo mundo saiba que sou a maior apologista da Internet, tenho sempre muita preocupação com os jornalistas que ficam tão maravilhados que esquecem de usar o telefone, de fazer a checagem das informações que obtêm e caem naquela coisa de receber respostas prontas. Você não tem chance de dialogar com quem lhe respondeu. Usar a Internet, sim, mas com ponderação e bom-senso.
 

Serviço, informação e opinião andam de mãos dadas na rede?

Desde que tudo fique claro. Quer dizer, você tem o jornalismo de informação, tentando ser o mais objetivo possível, o jornalismo de serviço e o de opinião. Desde que distinga essas três coisas, que não misture e não tente enganar a pessoa que vai receber a informação, é muito bom ter tudo. E quanto mais organizado isso for, melhor. É bom para o ususário ter as três coisas. Tem hora que ele não quer ver só a notícia.
 

Com a interatividade, o público comunica sua vontade. Até que ponto o jornalista pode pegar as demandas como tema?

Vou falar um pouco da minha experiência pessoal. Eu comecei a escrever uma coluna sobre Interent, coloquei meu e-mail e me acostumei a receber feedback. Pouco depois, publiquei um livro onde também tinha meu e-mail. Eu estimulava as pessoas a me escrever e recebi milhares de e-mails. Foi uma experiência bem incomum, porque poucas pessoas podem ter um retorno tão bom quanto permite a Internet. O que passou a acontecer foi que os colunistas começaram a assinar com seus e-mails e hoje quase todas as colunas e editorias trazem endereço de correio. Então, se você pegar um colunista qualquer, vai ver que 20 ou 30% da coluna tem a ver com as cartas que ele recebe pela Internet. Quem recebia uma carta por mês, agora recebe 10, 15 mensagens por dia. Isso prejudica um pouco, porque, como leitor, você não quer saber a relação do colunista com outro leitor. Muitos podem, por preguiça, se sentir tentados a dar uma olhada nos e-mails e publicar umas respostas: está pronta, assim, mais uma coluna. Então, é bom tomar cuidado com o feedback, que pode até servir para alimentar uma nova linha de jornalismo no futuro, mas não pode servir para alimentação diária das colunas. O jornalista não pode deixar de fazer o que fazia antes.
 

O que te motivou a escrever aquelas colunas ensinado a usar mecanismos de busca?

Existem muitos profissinais que são mais hábeis para encontrar informações e não as repartem. Isso não pode ser a diferença entre as pessoas. Acho que todo mundo deve ter a mesma chance. O bom profissional é o que vai saber usar aquelas informações de forma mais inteligente.