APRENDIZ DE JORNALISTA
JORNAL ON LINE LABORATÓRIO DO DECOM/UFRN

PARA SER JORNALISTA É PRECISO SER FORMADO?

Érika, Fernanda Perpétua, 

Lilian e Verônica

Atualmente, trabalhar como jornalista significa, a primeira vista, ter formação superior em jornalismo, com as técnicas e teorias estudadas por vários anos na faculdade! Mas, nem sempre foi assim! No Brasil, a qualificação de mão-de-obra  para a profissão foi regulamentada pelo governo somente em 1969. A partir daí, o diploma em curso superior de jornalista passou a ser uma exigência para a atuação em quase todas as suas atividades.

O desenvolvimento da imprensa brasileira é marcado pela dedicação de profissionais liberais, que embora tinham outras profissões - juristas, artistas, escritores literários - emprestavam seus conhecimentos à imprensa. O jornalismo não era encarado como profissão, mas como atividade que poderia ser efetuada por qualquer intelectual que conhecesse a situação social da época.

Mesmo com a obrigatoriedade do diploma para exercer o jornalismo, o atual mercado de trabalho, ao contrário, revela uma situação bem diferente, servindo de pressuposto para a polêmica existente nos meios de comunicação sobre a necessidade ou não da graduação para cumprir as funções da profissão.

Em Natal, capital do Rio Grande do Norte, muitos jornalistas trabalham sem possuir a titulação necessária; Ou são estudantes de comunicação (estagiários), ou pessoas que atuam no mercado desde a época em que nem existia curso superior nesta área. É o caso, por exemplo, do jornalista Everaldo Lopes Cardoso, que embora já esteja aposentado com mais de 30 anos de profissão, trabalha no jornal Tribuna do Norte e é assessor de imprensa de alguns estabelecimentos. Formado em administração, ele afirma que "o diploma não é tudo no mundo jornalístico, o talento é o mais importante!".

Já o professor do curso de comunicação da UFRN e diretor superintendente da Rede Tropical, Jânio Vidal, é categórico: "É preciso ser formado não apenas em relação a parte técnica mas também, principalmente, quanto a necessidade de uma formação humanista baseada no conhecimento e no saber, e que somente na universidade se tem as condições para a formação do jornalista.".

Hoje em dia, para ser jornalista não basta escrever bem e ter um amplo conhecimento de mundo, tem que entender e saber usar as novas tecnologias, é importante saber outras línguas, e estar disposto a enfrentar as dificuldades de um mercado cada vez mais saturado. As barreiras se ampliam quando o assunto é teoria X pratica. Na formação superior, o aluno de jornalismo convive pouco com a prática, as vezes por falta de recursos da própria universidade, o que aumenta o choque na hora da atuação na área.

O jornalista Cid Augusto, do jornal O Mossoroense, que não é formado em jornalismo, mas desde o ano passado cursa comunicação social na UFRN, diz que "a teoria pode existir sem a prática, mas não há prática sem a teoria. Por exemplo, o sujeito pode passar a vida inteira formulando teorias sobre o jornalismo e nunca o praticar. Por outro lado, quando alguém milita na profissão, seja diplomado ou autodidata, formula teorias, mesmo inconsciente desse processo.".

Com uma opinião diferente, Jânio Vidal acredita que teoria e prática são duas formas convergentes, uma não existe sem a outra. E cita o exemplo da UFRN, que é uma das "universidades que tem a porcentagem mais expressiva de professores com titulação e conhecimento teórico, e que se mantém atuando no mercado, ou seja, com a prática.".

A profissão de jornalista exige muito mais que habilidades e técnicas adquiridas, exige talento, uma aptidão natural presente em pessoas que possuem o dom para trabalhar socialmente pela informação coletiva. "O talento é diferente, não tem limites, sem talento por mais habilidade e técnica o jornalista não conseguirá fazer a diferença." afirma Jânio Vidal, que começou a trabalhar no primeiro ano da faculdade de jornalismo e não parou mais.

A estrutura dos veículos de comunicação, onde se perpetuam as relações de dominação, exclui a opinião do jornalista e reflete a filosofia da empresa, fazendo do talento uma característica relativa, mesmo sendo fundamental num campo tão competitivo. O importante é saber que assumir uma função social, através do jornalismo, não se limita a alguns poucos anos de estudos em uma faculdade e, sim, a atuação no meio social como agente de transformação. É preciso dedicação, abnegação e força de vontade, afinal, como afirma Everaldo Lopes, "o retorno do público é o mais gratificante na profissão", e é justamente para fazer a diferença e contribuir para uma educação e manutenção política e cultural da sociedade, que o jornalismo atrai cada vez mais pretendentes e se consolida como fundamental instituição neste mundo tão dependente da comunicação.