NU NO CIBERESPAÇO ...
O
mundo anda cansado de ficção, está mais curioso e os veículos de
entretenimento estão sendo obrigados a acompanhar essa tendência mundial,
faturando altas cifras com isso. Eis que surge o buraco da fechadura virtual.
Que nada mais é que a realidade exposta na tela do cinema, da televisão, do
computador. Saciando a curiosidade de um público que se multiplica junto às
produções e iniciativas, cada vez mais constantes.
Aquele
velho filão explorado pelo Supercine
de sábado a noite, a estória baseada em
fatos reais, anda em declínio. O mundo está interessado em saber e
conhecer o comportamento humano em situações reais, num divertimento sádico
para ser assistido comendo pipoca com guaraná. E a modernização vem
contribuindo para a disseminação desse gênero curioso, que pode ser analisado
como febre, quiçá como fenômeno.
No
cinema temos um exemplo perfeito dessa coqueluche, o filme O
Show de Truman mostra a vida de um homem comum que vive num seriado desde o
seu nascimento, onde só convive com atores e sua cidade, na verdade, é um
grande cenário montado por uma rede de TV que exibe sua vida 24 horas por dia,
para um público gigantesco. Truman foi
totalmente fictício mais impulsionou e instigou produtores e os telespectadores
em geral. Foi apenas o princípio.
Ainda
no cinema, temos o recente filme que vem sendo tratado como o marco dessa nova
linha. A Bruxa de Blair é uma produção
independente e amadorística, com imagens desfocadas, tremidas e enredo
angustiante. A produção custou a dois cineastas iniciantes a balela de 35 mil
dólares, foi vendido a uma produtora por 1,1 milhão e já faturou, só nos
E.U.A US$ 200 milhões de dólares!!! Ou seja, o filme se pagou mais de quatro
mil vezes. O melhor negócio do cinema mundial.
A
trama é simples e a maneira que o filme é apresentado é o grande curinga.
Trata-se de três jovens que se embrenham dentro do mato para fazer um documentário
sobre uma lendária bruxa, na cidade Burkittsville
e acabam passando por maus bocados. A bruxa é fictícia, o enredo é fictício,
mas o medo é real. Os atores foram manipulados para terem medo, foram deixados
no meio do mato e foram assustados pela produção. Isso tudo é vivenciado e
mostrado por eles, através de duas câmaras caseiras. Assisti o filme e tive náuseas,
passei mal, o filme é contra-indicado para quem tem labirintite, mas não
abandonei a sala de exibição e sequer levantei da cadeira, curioso!
Jornais,
revistas e a televisão já exploravam isso há muito tempo. Sensacionalistas
como o Aqui Agora, a indústria dos
fofoqueiros e os famosos fotógrafos paparazzi
são ícones nas suas áreas. Poucas semanas atrás acompanhamos no horário da
sessão da tarde o drama dos passageiros do ônibus sequestrado 174, o Brasil
inteiro acompanhou a morte da professora Geisa como se fosse um filme de ação.
A MTV há algum tempo vem exibindo o seriado Na
Real onde a vida de jovens é retratada nas suas relações, no seu
dia-a-dia, nos conflitos condizentes a idade, sem roteiro, nem toques de ficção.
Uma televisão holandesa bateu recordes de audiência com o programa Big
Brother. Cinco mulheres e quatro homens com idade entre 20 e 44 anos,
escolhidos através de um concurso, dividem uma casa onde é proibido ouvir rádio,
ler jornais, assistir televisão, escutar música, falar ao telefone e até usar
relógio. Um mundo isolado, para saber a reação de um grupo de pessoas a um
cotidiano de privações provocadas. Os participantes são estimulados a se
desentenderem e a cada duas semanas um é expulso da casa, quem resistir a toda
essa pressão psicológica ganha um prêmio de 120 mil dólares. Todo o
desenrolar da convivência é assistido por milhares de pessoas no horário
nobre.
Na
internet as possibilidades ainda estão sendo descobertas, mas já existem sites
com strip tease. Outro exibe os hábitos de uma família sueca em www.electrolux.se.
Seis estudantes expõem suas vidas em hereandnow.net.
E no www.jennicam.org, uma garota
ganha dinheiro atendendo desejos de internautas. São sites com recorde de visitação que brotam na rede a cada instante.
Isso tudo deve ter algum sentido para quem assiste e para quem se expõe e o efeito causado será analisado no futuro. O que resta é matar a curiosidade desse povo, sem exageros, com limites. O buraco da fechadura virtual está aberto, escolha a sua porta e fique a vontade. Se possível for.