APRENDIZ DE JORNALISTA
JORNAL ON LINE LABORATÓRIO DO DECOM/UFRN

 

NU NO CIBERESPAÇO ...

Marcílio Amorim

O mundo anda cansado de ficção, está mais curioso e os veículos de entretenimento estão sendo obrigados a acompanhar essa tendência mundial, faturando altas cifras com isso. Eis que surge o buraco da fechadura virtual. Que nada mais é que a realidade exposta na tela do cinema, da televisão, do computador. Saciando a curiosidade de um público que se multiplica junto às produções e iniciativas, cada vez mais constantes.

Aquele velho filão explorado pelo Supercine de sábado a noite, a estória baseada em fatos reais, anda em declínio. O mundo está interessado em saber e conhecer o comportamento humano em situações reais, num divertimento sádico para ser assistido comendo pipoca com guaraná. E a modernização vem contribuindo para a disseminação desse gênero curioso, que pode ser analisado como febre, quiçá como fenômeno.

No cinema temos um exemplo perfeito dessa coqueluche, o filme O Show de Truman mostra a vida de um homem comum que vive num seriado desde o seu nascimento, onde só convive com atores e sua cidade, na verdade, é um grande cenário montado por uma rede de TV que exibe sua vida 24 horas por dia, para um público gigantesco. Truman foi totalmente fictício mais impulsionou e instigou produtores e os telespectadores em geral. Foi apenas o princípio.

Ainda no cinema, temos o recente filme que vem sendo tratado como o marco dessa nova linha. A Bruxa de Blair é uma produção independente e amadorística, com imagens desfocadas, tremidas e enredo angustiante. A produção custou a dois cineastas iniciantes a balela de 35 mil dólares, foi vendido a uma produtora por 1,1 milhão e já faturou, só nos E.U.A US$ 200 milhões de dólares!!! Ou seja, o filme se pagou mais de quatro mil vezes. O melhor negócio do cinema mundial.

A trama é simples e a maneira que o filme é apresentado é o grande curinga. Trata-se de três jovens que se embrenham dentro do mato para fazer um documentário sobre uma lendária bruxa, na cidade Burkittsville e acabam passando por maus bocados. A bruxa é fictícia, o enredo é fictício, mas o medo é real. Os atores foram manipulados para terem medo, foram deixados no meio do mato e foram assustados pela produção. Isso tudo é vivenciado e mostrado por eles, através de duas câmaras caseiras. Assisti o filme e tive náuseas, passei mal, o filme é contra-indicado para quem tem labirintite, mas não abandonei a sala de exibição e sequer levantei da cadeira, curioso!

Jornais, revistas e a televisão já exploravam isso há muito tempo. Sensacionalistas como o Aqui Agora, a indústria dos fofoqueiros e os famosos fotógrafos paparazzi são ícones nas suas áreas. Poucas semanas atrás acompanhamos no horário da sessão da tarde o drama dos passageiros do ônibus sequestrado 174, o Brasil inteiro acompanhou a morte da professora Geisa como se fosse um filme de ação. A MTV há algum tempo vem exibindo o seriado Na Real onde a vida de jovens é retratada nas suas relações, no seu dia-a-dia, nos conflitos condizentes a idade, sem roteiro, nem toques de ficção. Uma televisão holandesa bateu recordes de audiência com o programa Big Brother. Cinco mulheres e quatro homens com idade entre 20 e 44 anos, escolhidos através de um concurso, dividem uma casa onde é proibido ouvir rádio, ler jornais, assistir televisão, escutar música, falar ao telefone e até usar relógio. Um mundo isolado, para saber a reação de um grupo de pessoas a um cotidiano de privações provocadas. Os participantes são estimulados a se desentenderem e a cada duas semanas um é expulso da casa, quem resistir a toda essa pressão psicológica ganha um prêmio de 120 mil dólares. Todo o desenrolar da convivência é assistido por milhares de pessoas no horário nobre.

Na internet as possibilidades ainda estão sendo descobertas, mas já existem sites com strip tease. Outro exibe os hábitos de uma família sueca em www.electrolux.se. Seis estudantes expõem suas vidas em hereandnow.net. E no www.jennicam.org, uma garota ganha dinheiro atendendo desejos de internautas. São sites com recorde de visitação que brotam na rede a cada instante.

Isso tudo deve ter algum sentido para quem assiste e para quem se expõe e o efeito causado será analisado no futuro. O que resta é matar a curiosidade desse povo, sem exageros, com limites. O buraco da fechadura virtual está aberto, escolha a sua porta e fique a vontade. Se possível for.