APRENDIZ DE JORNALISTA
JORNAL ON LINE LABORATÓRIO UFRN JULHO 2003


 

  Sociedade organizada clama por cidadania e justiça social

 

    Surge no cenário mundial uma nova visão de mundo baseada no modelo associativo desenvolvido pelas Organizações Não Governamentais. Este fenômeno representa bem mais que uma coleção de ONGs: reflete a capacidade dos cidadãos de se unirem para melhorar a vida pública.

    O movimento conhecido como Terceiro Setor, empreendido pelas Organizações Não Governamentais(ONG’s), vem desenvolvendo ações sociais fundamentadas no paradigma do desenvolvimento humano, onde a busca pela cidadania, direitos humanos e justiça social constituiu-se no objetivo destes voluntários que almejam fazer acontecer o que realmente significa ser cidadão. Constituir uma ONG é fácil, basta reunir um grupo de pessoas com pensamentos semelhantes, fazer uma assembléia, criar o estatuto, a ata de eleição e legalizar em cartório. O difícil é a manutenção e continuação do trabalho, que requer parcerias, recursos e muita dedicação.

    Há cerca de trinta anos, as ONGs começaram a aumentar e se estruturar, trabalhando contra três males interligados: pobreza, superpopulação e degradação ambiental. O crescimento demográfico provoca freqüentemente o desmatamento e o empobrecimento dos solos - portanto, o aumento da pobreza. Esta última expulsa pessoas de suas terras para outras onde a situação se repete. Por fim, a destruição do meio ambiente pelas multinacionais pode acelerar cada vez mais o avanço da miséria e a exclusão de muitos.

    O desenvolvimento, a ajuda humanitária, os refugiados, os direitos humanos e a democratização e preservação do meio ambiente são as principais preocupações das ONGs internacionais (ONGIs). Desde 1995, foram registradas 20 mil dessas instituições com filiais em mais de 123 países, além de 5 mil ONGs sediadas em algum país do Norte, porém desenvolvendo atividades no exterior.

    A cada dia, consolida-se mais e mais na sociedade, a nível global, uma nova visão dos diferentes atores sociais, especialmente no que se refere ao papel do Estado e sua relação com os demais agentes sociais na implementação das questões de interesse público.

    Um dos protagonistas deste Evento é o jornalista Eugênio Parcelle, diretor da Cia TerrAmar, uma Organização Não Governamental sem fins lucrativos, destinada ao desenvolvimento de atividades relacionadas  com cultura, educação e comunicação contribuindo para o desenvolvimento humano de crianças e adolescentes. “A proposta é dar oportunidade para esta clientela de crescimento, tendo como referência o Estatuto da Criança e do Adolescente e  o Paradigma do Desenvolvimento Humano. Atualmente funcionamos como uma agência de notícias dos direitos da infância, em parceria com o UNICEF e a ANDI e Rede Andi e desenvolvemos o projeto Conexão Felipe Camarão, com sete oficinas, sendo cinco culturais e duas de comunicação (jornal e fotografia), na linha do protagonismo juvenil e da educomunicação”. De acordo com Parcelle, “a busca por mudanças pessoais e coletivas, a partir do conhecimento, requer uma troca de conhecimentos, uma disposição para o novo, uma doação sem exigir nada em troca - se bem que, muitas vezes, recebemos mais do que damos...”

    Uma questão interessante relacionada com esse fenômeno social é a proposta do terceiro setor em fazer um novo pacto social, com a divisão do poder entre o governo, o povo e a iniciativa privada. “Como reza a democracia, o poder deve ser do povo, pelo povo, para o povo. O que aconteceu, na realidade? O Governo tomou conta de tudo: Educação, saúde, segurança.... Cabe a nós, sociedade civil, recompor este espaço”, reivindicou Parcelle. Ao ser questionado sobre qual a motivação maior que o leva a fazer algo pelo próximo o jornalista disse que “Tudo começa com o desejo, a vontade de ajudar ao outro. Isso é fundamental. Trabalhar com crianças com câncer, meninos e meninas em situação de risco social,  jovens que cometeram ato infracional grave, entre outros, é se aprofundar naquilo que é mais profundo e verdadeiro no ser humano, é se angustiar e se alegrar com a vida. É um eterno aprendizado. E a cada olhar que volta a brilhar, a cada sorriso sincero que ganhamos, sentimos que nossa missão está sendo cumprida. E continuamos a caminhada. Nos orgulhamos muito de “participar desta revolução silenciosa, pela paz, que está acontecendo em todo o mundo”.

    A socióloga Nísia Floresta fez uma abordagem interessante desta “revolução silenciosa pela paz”. Como professora universitária da UFRN, coordena projetos de pesquisa e extensão destinados a melhoria da Educação, Saúde e Qualidade de Vida na comunidade. Ela destaca bastante a ação das Organizações Não Governamentais, contudo, faz algumas ressalvas. “A importância da opinião pública exigir Políticas Governamentais de cunho social não pode ser esquecida mediante o êxito das iniciativas promovidas pelo Terceiro Setor, uma vez que, os impostos pagos por nós cidadãos são destinados a esse fim. Além disso, o Estado é possuidor de órgãos e instituições voltados para atender as necessidades básicas dos cidadãos, os quais se encontram em péssimas condições de funcionamento, de maneira que desperdiçam enormes investimentos feitos pelo poder público”, analisou a Cientista Social.

Essas premissas mostram o quanto é difícil balizar o cenário mundial de tais associações, tão complexo quanto vasto, tão dinâmico quanto promissor. Existem inclusive redes internacionais e ONG nacionais cuja ação pretende estimular a economia e o comércio. Elas mostram que o combate à globalização irresponsável não passa forçosamente pelo ódio ao lucro.


Muriu de Paula Mesquita