APRENDIZ DE JORNALISTA
JORNAL ON LINE LABORATÓRIO UFRN JULHO 2003


 

Universidade

        Renovada - a maturidade na sala de aula

 

Faz algum tempo que a faculdade não é exatamente sinônimo de juventude — ao dar um giro pelas universidades, é cada vez mais comum encontrar gente de cabelos brancos participando das rodas de discussão dos jovens. A complicada situação econômica que o país atravessa hoje em dia, a necessidade de constante especialização e reciclagem profissionais, somados a fatores como ociosidade por aposentadoria estão transformando um fato que há algum tempo atrás seria tema de matéria do Fantástico em algo banal — qual classe universitária hoje em dia não tem entre seus alunos dois ou três com mais de quarenta anos?

O ingresso tardio nas universidades tem representado um quadro crescente nos últimos anos, conforme dados da própria COMPERVE (UFRN), demonstrando toda a garra desse pessoal que não tem medo de competir de igual para igual com os mais jovens. No processo seletivo de 2003 da UFRN, dos 3.405 aprovados, dezesseis por cento, isto é, 55 candidatos com idade variando entre 40 e 66 anos conseguiram a sua tão sonhada vaga. O curso mais procurado nessa faixa etária é Direito, enquanto que o curso de Filosofia absorveu o maior número: quatro calouros temporãos.

O universo de motivos que levam uma pessoa a voltar aos estudos na faculdade pode nascer da necessidade de credibilidade na sua profissão, como o caso do contabilista José de Anchieta, 47 anos; ou o de Genival de Oliveira, 40 anos, que possuía uma farmácia e queria economizar a verba destinada à contratação de um profissional especializado (que teria que ser um farmacêutico formado e com diploma): deci diu então, ele próprio fazer o curso de Farmácia Bioquímica na UNP. Outros também encontram na universidade uma forma de aumentar seu círculo de amizades, ou de resgatar um sonho antigo, engavetado na juventude.

Todos os entrevistados tiveram o apoio incondicional da família à sua decisão de ingressar, através do processo seletivo do vestibular, na universidade. Fato esse que, enquanto para uns foi uma experiência emocionante, para outros foi uma etapa difícil de ser administrada, pois estavam há anos longe dos livros.

O mercado de trabalho tornou-se cada vez mais seletivo, buscando uma mão-de-obra com alto grau de especialização. Decorrente de tal necessidade, os profissionais que já estão em atividade ou os outros que têem pretensão em se tornar atuantes são singulares no tocante à capacitação técnica e intelectual exigidas, sendo a universidade, na opinião deles, a instituição capacitada para este propósito.

Um outro aspecto importante relacionado a esses alunos é o convívio deles com as gerações mais novas, que predominam nas classes universitárias. Uma observação curiosa neste aspecto é o fato de que todos os entrevistados alegaram ter um ótimo convívio com seus colegas de turma. Pelo visto os mais jovens não se sentem, de forma alguma, prejudicados por terem que dividir seu espaço com pessoas de mais idade, muitos dos quais já encontram-se no mercado de trabalho, como José de Anchieta, que entrou na faculdade para conseguir um diploma de nível superior: “ Com o passar dos anos as pessoas passaram a dar mais credibilidade aos graduados”, diz o entrevistado, explicando os motivos que o levaram à universidade após os quarenta anos de vida, dez dentre os quais dedicados à profissão.

O número desses alunos “maduros” é bem maior nas universidades particulares, como nos relata o próprio Anchieta (que cursa Ciências Contábeis na FAL): “Já que o governo não garante a todos o direito de ingressar em uma universidade federal, muita gente acaba adiando os planos de se graduar por ter que traba-lhar, quando deveria ser o contrário”.

De acordo com Jaime Biella, professor há nove anos do curso de Filosofia da UFRN “Os professores deste curso estão acostumados com esta diversidade nas salas de aula, pois estes alunos buscam na Filosofia um complemento profissional de âmbito mais geral, com uma intenção clara de me-lhorar profissionalmente, além, é claro, de pessoas que no passado alimentaram o sonho de cursar Filosofia, por considerarem que ela oferecerá um conhecimento que melhorará sua vida como um todo, tornando possível uma compreensão mais ampla da realidade”.

Foi com o intuito de oferecer assistência, ensino e participação em atividades diversas às pessoas acima de cinqüênta anos, que surgiram as “Universidades Especiais”. Aqui em Natal podemos citar a UNATI – Universidade Aberta à Terceira Idade, que tem a administração da UNP. Visando a re-inclusão do idoso na sociedade através de ações integrativas, de forma que eles possam ser vistos como cidadãos e possam exercer de fato a sua cidadania, a UNATI oferece cursos como Fisioterapia Prática, Teatro, Informática, Dança de Salão, Atualidades, Voluntariado, Contabilidade Prática, dentre outros. É o caso da “jovem universitária”, Sra. Yolanda Arrais, 68 anos, pedagoga, com inúmeros cursos de aperfeiçoamento e capacitação profissional. Dona Yolanda é aluna da UNATI nas disciplinas de Inglês e Artes Plásticas. Recém-chegada de São Paulo, ela se matriculou para exercitar a memória, se manter atualizada, aumentar o círculo de amizades e, sobretudo, sentir-se “viva” — Mesmo aposentada, sinto a necessidade de estar em atividade e produzir — diz Dona Yolanda.

Essa variedade etária na universidade pode ser positiva: mais diversidade de cores, de tipos, de classes sociais, de pensamentos, e por que não de idade?

Sim, isto é um fator positivo — é democratização e socialização também.

O Sr. Aldayr Dantas, 53 anos, aluno do curso de Direito da UFRN, diz serem bastante positivas iniciativas como a dele próprio, de voltar a estudar, e em seguida já dá seu ultimato às pessoas que pararam de estudar julgando elas já ser o bastante: “…significa a morte intelectual, prenúncio da morte física”.


Ana Clara G. de Moura Fé, Bruna Mara P. Wanderley, Cristiane Maria Rodrigues, Karlos Koolidje S. de Andrade, Kelly Cristina Maia Cordeiro, Marialice Guedes de Oliveira