APRENDIZ DE JORNALISTA
JORNAL ON LINE LABORATÓRIO UFRN SETEMBRO 2002


 

Universidade: gregos e troianos no cenário da comunicação

 

Os meios de comunicação no Brasil, em grande parte, surgiram e são mantidos atrelados ao poder.  Diante deste cenário, caberia a preocupação em saber como estariam as instituições formadoras daqueles que são responsáveis pela informação e comunicação da sociedade. Que linha editorial seguem e como conseguem preservar a imagem das instituições de ensino tendo que comunicar com fidelidade e indistintamente a realidade das ocorrências internas para a sociedade? Como estariam conciliando o ensino para uma boa formação do profissional jornalista autêntico que informe à sociedade de modo imparcial sem contrariar interesses internamente e na relação da Universidade com a sociedade?

 

"Gregos"

            A estrutura administrativa da área de comunicação da UFRN é gerenciada pela Superintendência de Comunicação, que abrange: a Agência de Comunicação (AGECOM), a Televisão Universitária, e a Rádio Universitária - FM 88.9. Segundo a Superintendente de Comunicação, Ana Maria Concentino Ramos, no cargo há cinco meses, são grandes as dificuldades que concernem a reciclagem para melhor qualificação dos recursos humanos, as deficiências de infra-estrutura e recursos orçamentários para a aquisição de novos equipamentos tecnologicamente adequados para os laboratórios, além da satisfatória manutenção dos equipamentos já existentes, o que espera superar com o aprimoramento da programação, com novos cenários e consecução de patrocínios culturais.

            Quanto à linha e interesses dos órgãos da Superintendência, "por se tratar de uma instituição pública com filosofia voltada para atender aos interesses público e da Universidade, nas áreas de divulgação de projetos de pesquisa, políticas de meio ambiente, cultura, ciência, educação e cidadania,  não é sua preocupação a lógica do mercado - no que tange à concorrência e a audiência, pois não se visa o lucro financeiro e sim as ações educativas", afirma a professora Ana Maria. Para tanto, a TVU busca montar uma grade coerente com seu papel educativo, inserindo programas como Por dentro do Campus, Clip Ciência, documentários, chamadas do Ministério público em apoio à criança e outras relacionadas à educação em saúde e à cidadania. Considerando "prioritária a formação acadêmica dos estudantes, oferecendo-lhes atividades práticas", os programas Xeque-Mate (produzido pelos alunos do Curso de Comunicação) e O Labirinto (no qual há participação de alunos bolsistas de comunicação), são alternativas para os estudantes. "Outra finalidade da Superintendência é servir de campo de estágio para os alunos de Comunicação, principalmente", lembra Ana Maria Concentino.

            Indagada sobre a programação da TVU, a professora afirma ser objetivo do meio o atendimento ao interesse público e aos interesses da cidadania, "veiculando notícias que venham melhorar as condições de vida, divulgando projetos de pesquisa, a questão do meio ambiente." Ainda diz que é papel da TVU tanto veicular noticiários da própria Universidade, quanto da sociedade em geral.

  

"Troianos"

             "A TVU, diferentemente dos outros sistemas de comunicação aqui do RN, é um órgão independente, mas não explora essa característica. Falta dinamismo." - denunciam alguns dos estagiários da AGECOM entrevistados. Segundo um deles, há má utilização dos meios de comunicação da UFRN: "A TV não deve ser assessoria de imprensa da Universidade. Não é que ela encubra os problemas daqui, mas faz uma espécie de corpo mole e chega a se isentar muitas vezes. A direção da TVU é muito diplomática, tem receio de queimar a imagem da Universidade".

            Outro estudante de Comunicação, estagiário da TVU, acredita que o que acontece é uma autocensura. "É  pior que censura. Os meios de comunicação da UFRN não eram para ser instrumentos da Reitoria da situação.Vejam os problemas da greve e o caso da dengue: o enfoque dado deveria ter sido bem maior."

 

Projetos e perspectivas

            Em período de processo eleitoral na UFRN, conhece a visão e perspectivas dos candidatos  do atual funcionamento e direcionamento dos órgãos de Comunicação. De acordo com a professora Maria Arlete Duarte de Araújo, candidata ao cargo de reitora da Universidade, "a comunicação aqui é falha, apresenta muitos problemas, como a dificuldade de fazer chegar a informação".  Segundo ela, a Universidade é uma instituição que tem enorme papel no Estado, mas sempre é cobrada da sociedade uma parceria mais estreita com a comunidade. "Mas creio que já cumprimos esse papel, talvez não da forma ideal. É necessário, sim, que sejam refeitas e revisadas todas as ações de marketing institucional", acredita. Porém, não deixa de dizer que a Universidade "se ressente em conhecer o que a própria Universidade faz."

            Quanto à questão do funcionamento da produtora, a professora Arlete Araújo entende que é preciso uma reavaliação que conduza a conclusões sobre o que é mais interessante para a instituição e para o treinamento e aprendizado dos próprios alunos de Comunicação; estudar se é mais conveniente manter a produtora como está ou repensar a sua forma de funcionamento, considerando a escassez de recursos. Ainda de acordo com suas declarações, as relações entre a reitoria e o setor de comunicação da UFRN devem ocorrer da "melhor forma possível", pois nenhuma organização pode ser pensada sem levar em conta a comunicação - elemento vital para o esclarecimento, formação, informação e motivação de pessoas para estabelecer canais de diálogo nos diversos segmentos da instituição e da sociedade. "Os meios de comunicação devem ser independentes, sendo a questão central a produção da informação tal qual ela seja, não interessando se positiva ou negativa em relação à instituição,  dando igual destaque aos nossos problemas, às nossas iniciativas e realizações, gerando um ambiente onde a Universidade possa criticar a sociedade e fazer a sua autocrítica, discutindo honestamente os seus problemas", afirma.

            Mas verificando os últimos cinco meses, de gestão da Superintendente Ana Maria Concentino, percebe-se que é possível melhorar, mesmo com poucos recursos. Nesse período, os websites da AGECOM e da TVU foram reestruturados, criou-se um boletim on-line para divulgar notícias veiculadas na imprensa relacionadas à Universidade, fez-se a manutenção dos equipamentos da TVU, já se fala até na possibilidade de trazer um cenógrafo da TV Cultura para auxiliar na modificação dos cenários. "Agora  vamos nos dedicar a uma análise dos nossos programas. Daí, entraremos na batalha por patrocínio cultural para melhorar as condições de atender a toda nossa infraestrutura", diz a Superintendente.



Eliel Souza (editor); Cacilda Medeiros (produtora); Jeann Karlo Dantas Lima (repórter); Samaria Santos Araújo (editora); Karla Graziela Ferreira Lins (repórter); Kavad Thiago Pereira (produtor).