APRENDIZ DE JORNALISTA
JORNAL ON LINE LABORATÓRIO/UFRN SETEMBRO 2002


 

Ciência sem consciência: tão sutil quanto nociva

 

No geral, a postura de isolamento  da atividade científica definiu parâmetros estreitos para o avanço tecnológico cientifico, gerando uma superespecialização  do conhecimento. Essa superespecialização, ao mesmo tempo em que proporciona novas descobertas científicas, causa uma desinformação generalizada às pessoas não inseridas em uma referente área disciplinar, dada a linguagem correspondente de cada ciência. É bastante perceptível nas universidades os problemas causados por essa divisão do conhecimento.

O financiamento de programas de pós-graduação e base de pesquisa é um exemplo da burocratização do pensamento causada pela formação especializada acadêmica. As pesquisas realizadas por esses programas fluem de acordo com o investimento aplicado nelas, por isso, os cursos mais consolidados são privilegiados em relação aos que mais necessitam de apoio para o desenvolvimento.

Para superar essa tendência pedagógica monodisciplinar, Edgar Morin desenvolveu uma linha de pensamento que busca interações de projetos especializados de pesquisa para um sistema complexo, sem quaisquer limites entre as ciências. O surgimento dessa nova metodologia científica reforça, denominada transdisciplinaridade, reforça a necessidade de um estudo sobre o emaranhamento entre as ciências, proposto pela teoria da complexidade. Para Morin, na expansão desse projeto “trandisciplinar”, a desordem participa como elemento necessário nos processos de criação e invenção, uma vez que todo ato criativo se desvia de sistemas previamente estabelecidos.

Baseando-se nos estudos e pesquisas de Edgar Morin, surgiu, dentro da UFRN, o Grupo de Estudos da Complexidade (GRECOM), que idealiza e concretiza uma produção mais coletiva no campo científico. Todas as práticas do grupo vão de encontro ao confinamento disciplinar, multiplicando o conhecimento em diferentes áreas e integrando a ciência “pé no chão” e a ciência “do imaginário”. Tanto que, a abrangência de suas pesquisas permitiu uma ligação entre cursos da UFRN e outras universidades, do país e do exterior.

A coordenadora do grupo, Ceiça Almeida, conviveu com Edgar Morin e participou de seus estudos sobre complexidade. A experiência desse contato, para ela, foi bastante singular, como seria para qualquer outro intelectual, pois Morin, segundo Ceiça, demonstra que a sabedoria é outra forma de compreensão do mundo e por isso sempre se porta, humildemente, como um “eterno estudante”, se diferenciando dos demais intelectuais. Ainda sobre  seu contato com Morin, Ceiça confessou toda a sua admiração pelo teórico: “É como se tivesse escrito nas estrelas uma certa simpatia, uma certa magia muito, muito forte.”

  Toda produção acadêmica de Ceiça, hoje, é inspirada nas teorias de Morin. Um exemplo disso, é o projeto “Polifônicas Idéias”, idealizado por ela e criado numa parceria entre o NAC (Núcleo de Arte e Cultura), o GRECOM e o jornal Tribuna do Norte. O projeto surge como um convite à busca, à curiosidade, à reflexão; não às certezas, mas às múltiplas vozes da interpretação.

O projeto apresenta-se com páginas semanais de artigos, escritos por pesquisadores de várias nacionalidades e de várias partes do Brasil ligadas à diversas áreas do conhecimento, no intuito de popularizar a ciência. Além disso,  “Polifônicas Idéias” realiza grandes conferências, proferidas por personalidades brasileiras o estrangeiras, ao público geral, cujas idéias têm repercussão internacional no que se refere à ciência, à filosofia e à arte. 

 


Rosangela Moura (repórter); Karina Maria de Morais (editora); Antonio Marcos Santana Sales (repórter); Raissa Fernandes (produtora); Danilo Freire (produtor).