APRENDIZ DE JORNALISTA
JORNAL ON LINE LABORATÓRIO/UFRN SETEMBRO 2002


MP3: REVOLUÇÃO OU PIRATARIA

Shawn Fanning – Criador do Napster

    O primeiro formato do MP3 saiu do instituto Fraunhofer (Alemanha), em 1987, quando um grupo de pesquisadores iniciou o desenvolvimento de um algoritmo para compressão de áudio denominado de Eureka-EU147. Em 1988, o instituto Fraunhofer em conjunto com a International Standards Organization (ISO) desenvolveram o MPEG Audio Layer 3, o verdadeiro nome do MP3, adotado oficialmente em 1992.

    Desde de 1996 os arquivos de MP3 já estavam disponíveis na web, porém de forma precária, “baixar” música não era simples e exigia do usuário um software específico para ouvi-las. Em 1997 foi criado o primeiro MP3 player “de verdade”, nos laboratórios da Advanced Media products (AMP), batizado de AMP MP3 playback Engine, que o disponibilizou em regime de código aberto; possibilitando, dessa forma, o seu aprimoramento; e foi o que os universitários Justin Frankel e Dmitry Boldyrev fizeram, acrescentaram ao AMP uma interface windows, e o lançaram com o nome de winamp.

Com o surgimento do winamp e de outros players gratuitos, o problema do aplicativo para rodar o MP3 estava resolvido, faltava um jeito mais simples de encontrar e “baixar” música.Isso foi resolvido pelo americano Shawn Fanning, que inventou um programa que facilitava a busca de músicas em MP3, batizado de Napster, esse programa fez história e abalou toda um poderosa industria: a fonográfica.

 

EXISTE MERCADO PARA O MP3?

    Desde que foi desenvolvido o primeiro software para troca de arquivos de músicas (Napster), milhares de internautas "caem" na rede, todos os dias,  à procura desse tipo de Mídia. Esse fato comprova que a troca de música via "WORLD WIDE WEB (WWW)" veio para ficar! E apesar da retirada do Napster da rede recentemente,vários outros sites de troca como: Morpheus, Wind MX e Kazaar, não pararam de "pipocar" na web; para desespero das grandes gravadoras.

    “Só quem não gosta de mp3 são as gravadoras majors, pra nós que temos selos pequenos é ótimo, divulga nosso artista e isso acaba incentivando as pessoas a comprarem o CD oficial. Bandas como Weezer disponibilizam toda a sua pré-produção no site antes do disco ser lançado e nunca deixa de vender, as vezes até atiça a curiosidade das pessoas para o Cd oficial. O único lado negativo é a falta do controle sobre o direito autoral. Os sites que disponibilizam mp3 deviam fazer igual as rádios que  veiculam as músicas nas suas programações mas pagam o ECAD dessas veiculações. É lógico que a taxa deveria ser diferenciada na Internet para não inviabilizar o trabalho dos sites, mas acho que essa seria uma boa saída para um caminho sem volta. MP3, assim como as novas tecnologias de gravação de áudio vieram para popularizar ainda mais o acesso a música para a população. Hoje em dia é muito fácil gravar um CD copiá-lo em casa mesmo e vender para os amigos, isso seria impossível a 10 anos atrás, por isso sou a favor de todas as formas de divulgação do artista, seja ele de uma gravadora ou independente que é o nosso caso...”, diz Anderson Foca, Vocalista da banda Officina e proprietário do selo DoSol Records.

    Se existe como parar esse mercado? Não! Por mais que as gravadoras tentem proibir a veiculação das músicas de seus artistas via internet, será tudo perda de tempo, pois o mercado de MP3 já se encontra consolidado,dado ao grande número de acessos diários e da grande comercialização de músicas e CD's.

    “Vejo o MP3 de uma forma positiva. Acho que é uma excelente maneira de se divulgar o trabalho dos artistas, desde os mais consagrados até os que ainda buscam o reconhecimento. Como lojista não me prejudica, pelo contrário, o MP3 possibilita o acesso à obra de determinado artista ou grupo, de forma que é muitas vezes através da pesquisa na internet que o consumidor de música vem até a loja e adquire o CD”, conta Marcelo Morais, Proprietário da Velvet Discos.

    Segundo Marlos Aypus, baixista da banda Brigitte Beréu, “O MP3 é uma ótima saída para pequenas gravadoras e artistas, que trabalham de forma independente, divulgarem seus trabalhos. E apesar das grandes gravadoras estarem combatendo o MP3, acredito que ele veio para ficar; até por que elas têm uma forma errada de trabalhar; exploram muito seus artistas, que para ganharem dinheiro precisam fazer shows o ano inteiro, já que a venda de CD’s não dão a eles quase nenhum retorno. E além disso, há CD’s  que apresentam, para algumas pessoas, apenas uma ou duas faixas interessantes, e para elas o MP3- ou até mesmo um produto falsificado - é a melhor maneira de economizar dinheiro”.

 

ONDE BUSCAR MP3

    Após vencer a guerra contra o Napster, a RIAA (Associação da Indústria Fonográfica Norte-Americana) derrubou mais um de seus “inimigos”: a terceira ferramenta de busca mais popular, segundo o site download.com, Audiogalaxy Satellite. Desde junho deste ano, os usuários que buscam MP3 gratuito na rede, perderam mais uma opção. Depois da derrubada do Audiogalaxy, estão na mira da RIAA o StreamCast Networks, que administra o Morpheus, o KaZaA, o Grokster, o MP3 Board e a Madster, antigo Aimster.

    Procurando aproveitar a lacuna deixada por alguns programas gratuitos, a indústria fonográfica lançou serviços pagos de busca de musica na rede. No sistema criado pelas gravadoras, o usuário paga uma quantia mensal (em média 10 dólares) para ouvir as músicas escolhidas no computador. A maioria destes serviços, porém, não oferecem nem de longe a variedade e facilidade oferecidas pelas ferramentas de busca gratuita, além de não permitirem que se copiem as canções para o computador nem que se gravem CDs.

    Confira alguns dos principais buscadores de mp3, pagos ou gratuitos:

o       KazaA (www.kazaa.com) - Um dos buscadores gratuitos mais utilizados após a queda do Naspster, o KazaA faz bastante sucesso entre os internautas pela enorme quantidade de arquivos encontrados em cada busca, como também pela facilidade de uso. A  rede do KazaA é considerada a mais completa da atualidade e também é utilizada para busca e download de clipes de vídeo, softwares e imagens.

o       Grokster (www.grokster.com) - Bastante parecido com o KazaA (utilizam a mesma rede) e também gratuito, reúne todos os recursos padrão encontrados nos sites concorrentes. No grokster é possível ajustar a quantidade máxima de downloads e uploads a serem realizados. Uma grande vantagem do serviço é a seção theatre, onde o usuário pode assistir aos clipes de vídeos. A desvantagem, é o excesso de banners e propagandas presentes no programa.

o       Emusic (www.emusic.com) - Serviço pago controlado pela Vivendi Universal, oferece mais de 200 mil músicas de 900 selos independentes. Nele, o usuário paga mensamente 14,95 dólares e pode fazer quantos downloads quiser, além de não esbarrar em restrições para copiar CDs.

o       Pressplay (www.pressplay.com) - Serviço pago lançado pela Sony, Yahoo e Microsoft, oferece ao usuário 30 downloads por mês ao custo de 9,95 dólares. Para que possa copiar músicas para CDs, o internauta deve optar por planos mais caros, mas ainda assim, existe um limite permitido de cópias. A partir do momento que a assinatura é cancelada, as músicas “baixadas” não podem mais ser executadas.

 DAVI, GOLIAS E PLATÉIA ANARQUISTA (GRAÇAS AO MP3).

    Imaginem Golias com uma multe-lança disparadora de CD's e um escudo judicial por direitos de lucros imediatos indo contra um Davi munido de um pequeno estilingue que dispara milhões de ícones em formato de MP3. Parece esta ser uma atualizada cena bíblica que vem a simbolizar a situação em pé-de-guerra entre mercados das grandes gravadoras e mercado independente. Na arena improvisada -o sociólogo Francês Pierre Levy fala no reencontro da "grande tradição do jogo e do ritual"- pela cibercultura o público desta vez se diverte fornecendo munição e participando ativamente (a munição daviniana, bem maior).

    Houve uma queda de 5% da vendas mundiais de CD's em 2001, segundo os dados das cinco maiores gravadoras do planeta. Nos EUA, maior mercado do planeta, os independentes já tomam conta de quase 20% da indústria fonográfica (no Brasil embora não existam dados exatos, estima-se apenas 5%). Na (im)provável alavanca destes dois resultados,um elemento comum chamado MP3.

    Para as grandes gravadoras, o formato é tido como ilegal, pois não inclui o pagamento dos direitos autorais das músicas, ou seja, sua principal fonte de renda, além de contribuir na queda da venda dos CD's, seguindo a mesma lógica. Já para os artistas independentes - e até umas "ovelhas negras" do outro rebanho -, o programa MP3 parece ser uma excelente ferramenta de divulgação, principal problema desta falta de mercado, visto que através dele pessoas de diferentes pontos do planeta têm acesso a uma audição antes impossível, e como possível conseqüência, a compra de CD's tende a aumentar, mesmo que numa instância não tão imediata (que é desejo das maiores, com ou
sem MP3). Vale salientar que o preço do cd independente é normal mente menor que o cobrado pelas gravadoras maiores, seja nos EUA ou no Brasil.

    Agora, no meio da batalha de proporções planetárias, a platéia tecnológica interage na rede (arena?) fazendo a diferença. Se não existe – ainda - um controle direto no uso do MP3, a corda continuará pendendo para aqueles que se predispõem a baixar as novidades, velharias e exclusividade da música que só se encontram facilmente na Internet. Encurtando a real distância geográfica e desbravando as fronteiras sonoras, o internauta põe em xeque-mate a própria perspectiva de lucro das grandes gravadoras, que só agora começam a pensarem como fazer pra vender música pela rede.

    Em junho do ano passado, as cincos grandes (Universal, EMI, Warner, BMG e Sony) resolveram ao mesmo tempo, segundo o New York Times, disponibilizar parte de seu acervo em diversos servidores. O preço, em média, por faixa: US$1.

De todo modo, o futuro da música na Internet continua incerto. Caçar milhões de usuários e fazê-los pagar que pode, neste exato instante, conseguido gratuitamente parece uma tarefa impossível. Redimensionar a idéia de autoria e toda sua moldura social, econômica e jurídica emerge como um sintomático emblema pós-moderno. E a munição de Davi cresce a cada dia.

 


Cristiane Galvão (repórter); Álvaro Jorge (repórter); Jarbas Medeiros (editor); Alexandre Alves (produtor); Marcelo Henrique Soares (produtor); Nélio Santa Rosa Junior (editor).