TEXTOS ESCOLHIDOS
Grupo de Estudos MÍDIA E PODER (GEMP)
Enquadramentos da Mídia e Política
Mauro P. Porto[1]
Nas
pesquisas sobre o papel dos meios de comunicação em processos políticos, um
enfoque tem atingido níveis importantes de proeminência e popularidade. Este
enfoque, cujo desenvolvimento é relativamente recente, tem como base o conceito
de "enquadramento" (framing). Apesar do paradigma encontrar-se ainda em estado embrionário,
suas aplicações têm dinamizado o campo da comunicação política, oferecendo
uma nova perspectiva para entender o papel da mídia. Este artigo tem por
objetivo apresentar alguns dos principais estudos desenvolvidos sobre os
enquadramentos da mídia e oferecer sugestões para o aprimoramento do conceito
e sua aplicação em estudos empíricos.
O
texto está organizado da seguinte forma. Primeiro, apresento os estudos
realizados a partir da noção de enquadramento para a análise do conteúdo político
da mídia e da recepção deste conteúdo pela audiência. Em seguida, faço uma
breve revisão de alguns dos estudos sobre enquadramento realizados no Brasil.
Na seção final, apresento algumas sugestões para o aprimoramento do paradigma
e para a condução de pesquisas empíricas sobre a relação entre os
enquadramentos da mídia e a política.
Enquadramento: um novo enfoque teórico
Quando
se discute ou se estuda o papel da mídia na política, um paradigma tende a
predominar entre acadêmicos, jornalistas e o público em geral. Freqüentemente,
a mídia é entendida como "fonte de informação" e seu papel é
definido como o de informar os cidadãos. Para bem servir a democracia, segundo
este enfoque tradicional, a mídia
deve transmitir informações de forma objetiva e imparcial para a audiência. A
partir deste ponto de vista, a crítica do papel político da mídia se
restringe geralmente a ressaltar a falta de objetividade ou a imparcialidade das
mensagens. Implícita neste paradigma está a visão de que ao tratar de temas
políticos a mídia deve impedir que valores e ideologias (principalmente dos
proprietários e jornalistas) interfiram no relato dos "fatos" (a noção
de objetividade) ou evitar que os meios de comunicação favoreçam um grupo,
partido ou candidato (a noção de imparcialidade). Na análise da cobertura das
eleições, por exemplo, pesquisadores freqüentemente medem o espaço dado a
cada candidato ou a valência das matérias (positiva ou negativa) para explicar
qual teria sido o papel da mídia
Como
argumentei em outras oportunidades em mais detalhe (Porto, 1998, 2001b), este
enfoque tradicional é insuficiente para o estudo da relação entre mídia e
política, contribuindo para tornar invisíveis diversos aspectos importantes
desta relação. As limitações do "paradigma da objetividade" têm
sido cada vez mais reconhecidas e autores têm proposto conceitos como o de
enquadramento como alternativa. Já no início da década de 1980, Robert
Hackett (1993) afirmava que os conceitos de parcialidade e objetividade e suas
noções afins (desequilíbrio, distorção, deturpação) constituem um suporte
teórico frágil, um paradigma em declínio. Segundo o autor, já não é
suficiente pressupor a possibilidade da comunicação imparcial, de conteúdos
objetivos e independentes do mundo exterior. Ainda que estes conceitos mantenham
seu valor normativo e empírico, Hackett argumenta que a investigação do papel
da mídia necessita avançar. Uma das medidas por ele proposta é a substituição
do conceito de "parcialidade" pelo de "orientação
estruturada". A noção de orientação estruturada inclui alguns aspectos
característicos da idéia de parcialidade (favoritismo, distorção, etc.), mas
é muito mais abrangente, já que inclui "vários tipos de orientações e
relações sistemáticas que, inevitavelmente, estruturam os relatos
noticiosos" (p. 128). Hackett argumenta que o conteúdo da mídia pode
desempenhar um papel político e ideológico importante não apenas quando
existe ou falta "objetividade" e/ou "imparcialidade", mas
também quando este conteúdo é produzido a partir de uma matriz ideológica
limitada. Essa matriz seria composta por um conjunto de regras e conceitos (uma
"estrutura profunda") que são ativados pelos jornalistas, nem sempre
de forma consciente e sem necessariamente existir uma intenção deliberada de
iludir ou manipular. Segundo Hackett, um dos fatores mais importantes da
"estrutura profunda" que rege a produção do noticiário são os
"enquadramentos" aplicados pelos jornalistas em seus relatos (pp.
120-122). Tomando como base os argumentos de Hackett, Tankard (2001, pp. 96-97)
argumenta que o conceito de enquadramento oferece um instrumento para examinar
empiricamente o papel da mídia na construção da hegemonia, no sentido
gramsciano de uma direção intelectual e moral na sociedade civil.
Além
de constituir um paradigma alternativo à abordagem da objetividade, o conceito
de enquadramento tem contribuído também para dinamizar perspectivas teóricas
existentes, particularmente as pesquisas sobre função de agendamento da mídia
ou agenda setting (ver o capítulo anterior deste livro). No artigo seminal que
lançou as bases da teoria da agenda setting, McCombs e Shaw (1972, p. 177)
afirmam, baseados em Bernard Cohen, que a mídia pode não ter muito sucesso em
dizer às pessoas o que pensar, mas seria muito eficiente em determinar sobre
o que as pessoas devem pensar. Posteriormente, o paradigma foi
criticado por não considerar como as diferentes formas de apresentação dos
temas pela mídia pode afetar o processo de formação de preferências políticas
da audiência. O principal problema seria a exclusão de variáveis relacionadas
ao conteúdo da mídia que são potencialmente importantes (Williams et al.,
1991, p. 252). Para ultrapassar estas deficiências, os próprios proponentes da
teoria da agenda setting têm recorrido ao conceito de enquadramento para se
referir a um "segundo nível de efeitos". Os pesquisadores passaram
então a examinar como a cobertura da mídia afeta tanto "sobre o que"
o público pensa (o primeiro nível de agendamento) e também "como" o
público pensa sobre estes temas (o segundo nível de enquadramento) (Williams
et al., 1991; Ghanem, 1997; Semetko e Mandelli, 1997; McCombs e Ghanem, 2001;
Maher, 2001). A incorporação do conceito de enquadramento pela teoria da
agenda setting é vista, todavia, como problemática por alguns autores. Tem
sido argumentado, por exemplo, que a perspectiva do enquadramento se refere a
novas questões que tendem a negar os princípios da agenda setting e que em vez
de fundir ambos paradigmas é preciso diferenciá-los (Kosicki, 1993; Cappella e
Jamieson, 1997, p. 51; Scheufele, 2000).
Portanto,
o conceito de enquadramento tem sido definido tanto como alternativa a
paradigmas em declínio, como também um complemento importante para cobrir
lacunas de teorias existentes. Passo a seguir a definir o conceito de
enquadramento e apresento alguns dos estudos que aplicaram o conceito para
compreender o papel da mídia..
Definindo o conceito de enquadramento
Mas
o que é exatamente um "enquadramento"? Como definir este conceito que
se apresenta como alternativa ao paradigma da objetividade e como complemento à
teoria da agenda setting? Apesar do seu uso crescente nos estudos sobre
processos de comunicação, as primeiras revisões sistemáticas da literatura
sobre enquadramento sugerem que ainda existe uma falta de clareza nos diversos
usos do conceito e que muito precisa ser feito para se desenvolver uma teoria
abrangente e coerente (Entman, 1994; Scheufele, 1999). Ainda não existe,
portanto, uma definição consensual sobre o que sejam os enquadramentos da mídia.
É possível, todavia, identificar seus aspectos principais através dos estudos
já realizados.
O
uso sistemático do conceito de enquadramento para a análise de fenômenos
sociais tem como fonte importante o livro Frame
Analysis do sociólogo Erving Goffman (1986). Apesar de afirmar que o
conceito tem sua origem em outros autores da tradição fenomenológica, Goffman
desenvolveu sua primeira articulação teórica mais sistemática, aplicando-o
à análise das interações sociais. Nesta obra, Goffman define enquadramentos
como os princípios de organização que governam os eventos sociais e nosso
envolvimento nestes eventos. Segundo o autor, tendemos a perceber os eventos e
situações de acordo com enquadramentos que nos permitem responder à pergunta:
"O que está ocorrendo aqui?". Neste enfoque, enquadramentos são
entendidos como marcos interpretativos mais gerais construídos socialmente que
permitem as pessoas fazer sentido dos eventos e das situações sociais.
Além
de trabalhos sociológicos, o campo da psicologia cognitiva constitui outra
fonte importante do conceito de enquadramento. Na psicologia, o conceito ganhou
proeminência através dos estudos conduzidos por Kahneman e Tversky (1984,
1986) que demonstraram como mudanças na formulação de problemas podem causas
variações significativas nas preferências das pessoas. Por exemplo, em um de
seus experimentos, Kahneman e Tversky (1984, p. 343; 1986, p. 124) pedem aos
participantes para imaginar que os Estados Unidos estavam se preparando para a
eclosão de uma epidemia de uma doença estranha proveniente da Ásia que
deveria matar 600 pessoas. Os autores pedem as pessoas para optar entre dois
programas que teriam sido propostos para combater a doença. Para um grupo de
pessoas, o primeiro programa é apresentado como o que salva 200 pessoas,
enquanto que para o outro grupo o mesmo programa é apresentado como provocando
a morte de 400 pessoas. Apesar do fato de que as alternativas são idênticas
(em um universo de 600 possíveis mortes, salvar 200 pessoas ou provocar a morte
de 400 é a mesma coisa) o primeiro programa foi o escolhido por 72% das pessoas
do primeiro grupo e somente 22% do segundo. O experimento demonstra que, apesar
dos problemas serem idênticos, as pessoas freqüentemente decidem de acordo com
a forma como os temas são enquadrados. Assim, escolhas envolvendo ganhos
("200 pessoas serão salvas") tendem a rejeitar riscos, enquanto que
as escolhas envolvendo perdas ("400 pessoas irão morrer") tendem a
estimular as pessoas a assumir mais riscos.
Kahneman
e Tversky sugerem que os resultados do processo de formação de preferências
podem ser alterados não apenas através da manipulação da informação
fatual, mas também através do seu enquadramento. Como afirmam os autores, um
assessor do presidente pode influenciar suas decisões, não ao omitir ou
distorcer informações, mas sim ao enquadrar as situações de forma específica
(1984, p. 346). Efeitos de formulação podem ocorrer sem ninguém ter consciência
do impacto do enquadramento adotado nas decisões e podem ainda ser explorados
para alterar a atratividade relativa da opções. Enquadramentos são, portanto,
importantes instrumentos de poder.
No
campo dos estudos de comunicação, a primeira aplicação mais relevante do
conceito de enquadramento foi o livro Making News da socióloga Gaye Tuchman (1978). Baseada no enfoque
desenvolvido por Goffman (1986), Tuchman argumenta que as notícias impõem um
enquadramento que define e constrói a realidade. Ao ressaltar como o poder políticos
pode ser reforçado pela forma através da qual o conhecimento é enquadrado, a
autora sugere que notícias são "um recurso social cuja construção
limita um entendimento analítico da vida contemporânea" (1978, p. 215).
Tuchmam ofereceu uma análise interessante sobre a relação entre práticas de
enquadramento e o processo de produção de notícias, mas como afirma Scheufele
(1999, p. 110), seu trabalho não definiu claramente o conceito e não
investigou como os enquadramentos dão forma á realidade que é apresentada
pelo noticiário.
Nos
anos que se seguiram, novos estudos buscaram destacar este processo através do
qual enquadramentos determinam a produção de notícias. Em seu estudo clássico
sobre a cobertura do movimento contra a guerra do Vietnã pela mídia
norte-americana, Todd Gitlin (1980) demonstra com elegância como os holofotes
da mídia tiveram um importante impacto na principal organização daquele
movimento, o SDS, ou Student for a
Democratic Society. Gitlin argumenta que através de algumas práticas de
enquadramento específicas (trivialização, polarização, ênfase em disputas
internas, marginalização, etc.) a mídia contribuiu para conter as mensagens
do movimento e para converter seus líderes em celebridades. Seguindo o caminho
aberto por Gitlin, vários estudos passaram a aplicar o conceito de
enquadramento para investigar a relação entre os movimentos sociais e os meios
de comunicação (Ryan, 1991; Gamson e Wolfsfeld, 1993; Entman e Rojecki, 1993;
McAdam et al., 1996; Wolfsfeld, 1997). Gitlin apresentou a primeira definição
mais clara e sistemática do conceito de enquadramento:
"Os enquadramentos da mídia
… organizam o mundo tanto para os jornalistas que escrevem relatos sobre
ele, como também, em um grau importante, para nós que recorremos às suas notícias.
Enquadramentos da mídia são padrões
persistentes de cognição, interpretação e apresentação, de seleção, ênfase
e exclusão, através dos quais os manipuladores de símbolos organizam o
discurso, seja verbal ou visual, de forma rotineira" (Gitlin, 1980, p.
7; itálicos no original; tradução do autor).
Na
definição acima, enquadramentos são entendidos como recursos que organizam o
discurso através de práticas específicas (seleção, ênfase, exclusão,
etc.) e que acabam por construir uma determinada interpretação dos fatos. A
definição de Gitlin, amplamente citada, serviu como base para o
desenvolvimento de pesquisas sobre os enquadramentos da mídia.
Além
de Gitlin, o sociólogo William Gamson e seus colegas constituíram outra tradição
de pesquisa importante sobre o conceito de enquadramento (Gamson e Lasch, 1983;
Gamson e Modigliani, 1987, 1989; Gamson e Meyer, 1996). O grupo liderado por
Gamson analisou o discurso da mídia sobre diversos assuntos, incluindo as políticas
de assistência social, de ação afirmativa e de energia nuclear, oferecendo
relatos sofisticados sobre a relação entre os enquadramentos da mídia e a
cultura política. O grupo tem argumentado que todo tema político tem uma
cultura, ou seja, um discurso que se modifica no decorrer do tempo e que
apresenta interpretações e significados sobre os fatos relevantes. Na maioria
destes temas, existem "pacotes interpretativos" que competem entre si.
No centro de cada pacote está o enquadramento, definido como "uma idéia
central organizadora" que atribui significados específicos aos eventos,
tecendo uma conexão entre eles e definindo o caráter das controvérsias políticas
(Gamon e Modigliani, 1987, p. 143). De acordo com esta perspectiva, os temas políticos
são caracterizados por uma disputa simbólica sobre qual interpretação irá
prevalecer. Para analisar os enquadramentos da mídia, os autores propõem o método
da "matriz de assinatura" (signature
matrix). Esta matriz inclui as práticas de enquadramento que caracterizam
cada "pacote interpretativo", tais como as metáforas, slogans e
imagens presentes nos discursos dos diversos agentes. Posteriormente, o método
foi aplicado por outros autores para identificar como a mídia enquadra assuntos
e eventos políticos (Beckett, 1995; Wolfsfeld, 1997).
Pesquisadores
têm identificado uma variedade de enquadramentos utilizados por jornalistas na
produção de notícias. Hallin (1994), por exemplo, identifica o papel dos
enquadramentos "guerra fria" e "direitos humanos" na
cobertura da mídia norte-americana sobre os conflitos na América Central,
particularmente da guerra civil em El Salvador. Já na cobertura de eleições,
jornalistas podem focalizar as propostas e posições dos candidatos, adotando
assim um "enquadramento temático" (ver Porto, 2001c). Mas os
jornalistas podem também optar pelo "enquadramento corrida de
cavalos" que apresenta as eleições em termos de quem está crescendo ou
caindo, focalizando o desempenho dos candidatos nas pesquisas e as estratégias
dos candidatos para manter a dianteira ou melhorar o desempenho nas intenções
de voto dos eleitores (Patterson, 1980, 1993; Robinson e Sheehan, 1983; Hallin,
1994, pp. 133-152). Em períodos não-eleitorais, pesquisadores têm
identificado um ângulo similar ao do corrida de cavalos: a tendência da mídia
de noticiar a política em termos estratégicos, ressaltando as intenções e ações
dos diversos "jogadores", adotando assim o "enquadramento do
jogo" (Lawrence, 2000).
Ao
fazer a primeira revisão sistemática dos estudos sobre os enquadramentos da mídia,
Entman (1994) apresenta uma definição do conceito que resume seus principais
aspectos. Segundo o autor,
"O enquadramento envolve
essencialmente seleção e saliência.
Enquadrar significa selecionar alguns
aspectos de uma realidade percebida e fazê-los mais salientes em um texto
comunicativo, de forma a promover um definição particular do problema, uma
interpretação causal, uma avaliação moral e/ou uma recomendação de
tratamento para o item descrito" (Entman, 1994, p. 294; itálicos no
original; tradução do autor).
Esta
definição resume os aspectos centrais do conceito, principalmente das suas
aplicações na análise de conteúdo da mídia. Um outro campo de aplicação
do conceito de enquadramento se refere à pesquisa sobre os efeitos da mídia. A
seguir, reviso alguns dos estudos realizados sobre a relação entre os
enquadramentos da mídia e as preferências políticas dos membros da audiência.
Os efeitos dos enquadramentos na audiência
Como
vimos na seção anterior, diversos estudos foram desenvolvidos sobre os
enquadramentos que estão presentes no conteúdo da mídia e que promovem
interpretações específicas sobre temas e eventos políticos. Mas como estes
enquadramentos afetam a audiência? Como vimos anteriormente, a definição clássica
de Gitlin sobre os enquadramentos da mídia supõe que eles organizam o mundo não
só para os jornalistas, mas também, "em um grau importante", para a
audiência. Os estudos revisados até aqui não incluem pesquisas empíricas com
a audiência para verificar se esta suposição de Gitlin pode ser comprovada.
Todavia, uma nova linha de pesquisa se desenvolveu para investigar como os
enquadramentos da mídia afetam os entendimentos das pessoas sobre assuntos políticos.
O livro Talking Politics do sociólogo
William Gamson (1995) representa um dos esforços mais importantes neste
sentido. Nesta obra, Gamson propôs verificar como cidadãos comuns desenvolvem
conversas e entendimentos sobre temas políticos e como a mídia influencia este
processo. O autor estava particularmente interessado na questão da consciência
política e procurou investigar se a mídia apoia ou não as mobilizações que
promovem ação coletiva. Gamson desenvolveu uma extensa análise de conteúdo
do noticiário da televisão, de revistas, charges e colunas de opinião em um
período de mais de uma década. O objetivo era o de identificar o discurso público
que se desenvolveu em torno de quatro temas: ação afirmativa, energia nuclear,
políticas industriais, e o conflito árabe-israelense. O autor organizou então
grupos focais (focus groups) com cidadãos comuns para investigar como eles ou elas
desenvolveram entendimentos sobre os quatro temas e como utilizaram a mídia
como recurso neste processo.
Baseado
nestas entrevistas, Gamson argumenta que a visão comum de que a maioria dos
assuntos e eventos políticos não faz sentido para os trabalhadores e pessoas
comuns está errada. As conversas incluíram discussões relativamente coerentes
que se estruturaram a partir de determinados enquadramentos ou "idéias
organizadoras implícitas". Mas se por um lado os dados revelaram que os
meios de comunicação eram um importante recurso em alguns assuntos, eles não
foram o único utilizado pelas pessoas entrevistadas. Elas também fizeram uso
da "sabedoria popular" e de suas experiências pessoais para
desenvolver entendimentos sobre temas e eventos políticos. O autor conclui que
a mídia é um dos recursos disponíveis mais importantes, mas que as pessoas
negociam com suas mensagens de forma complexa, dependendo do assunto.
Talking
Politics é uma das pesquisas mais importantes e sistemáticas sobre a relação
entre os enquadramentos da mídia e os entendimentos dos cidadãos sobre
assuntos políticos. A pesquisa tem, todavia, algumas limitações que devem ser
consideradas na pesquisa sobre enquadramento. Por exemplo, Gamson desenvolveu
uma sofisticada análise de conteúdo de um volume enorme de materiais da mídia,
mas seu estudo considerou "irrelevante" se as pessoas consumiram este
material ou não (Gamson, 1995, p. 26). Esta decisão torna análise da influência
da mídia particularmente difícil. O autor considera que a mídia influenciou
os entrevistados principalmente quando eles ou elas mencionaram algum meio de
comunicação como fonte, um procedimento com óbvias limitações e que pode
ter contribuído para os resultados de pequenos efeitos da mídia em várias das
áreas pesquisadas. O próprio Gamson reconheceu que é freqüentemente difícil
saber com certeza se uma determinada observação tem como fonte a mídia, já
que as pessoas geralmente não identificam a fonte do seu conhecimento (p. 118).
No
livro Nuclear Reactions, os autores
Corner, Richardson e Fenton (1990) investigaram como a audiência britânica
interpretou o tema da energia nuclear. Os autores apresentaram a grupos focais
segmentos curtos de programas de televisão, incluindo dois produzidos pela BBC
e um material produzido pelo sindicato do setor. Os grupos focais incluíram
representantes de várias organizações, como o Rotary
Club e a ONG Friends of the Earth.
Os autores encontraram na noção de enquadramento um instrumento analítico útil
para analisar os dados. Em particular, os autores ressaltam como os
entrevistados fizeram uso com freqüência do "enquadramento cívico"
que enfatiza a existência ou não de "imparcialidade" no modo como os
programas trataram o tema da energia nuclear, principalmente no que se refere à
apresentação equânime dos diversos pontos de vista.
Nuclear
Reactions apresenta uma análise detalhada da utilização de enquadramentos
pela audiência na interpretação de materiais da mídia. Todavia, o estudo é
prejudicado pela falta de um marco teórico claro e sistemático sobre os
enquadramentos. Os próprios autores reconhecem este problema, afirmando que
mantiveram um "aparato conceitual simples" (Corner, Richardson e
Fenton, 1990, p. 92).
Tanto
Talking Politics como Nuclear
Reactions investigaram o impacto dos enquadramentos da mídia nos
entendimentos da audiência sobre temas políticos a partir de grupos focais.
Outros pesquisadores optaram por utilizar métodos quantitativos para estudar o
mesmo tema, especialmente surveys e experimentos controlados. Em Is Anyone Responsible?, o cientista político Shanto Iyengar (1991)
investiga como o tema da responsabilidade é apresentado e enquadrado pela
televisão e como este meio de comunicação afeta as atribuições de
responsabilidade da audiência com relação a problemas políticos e sociais. O
autor analisa o papel da TV na discussão de dois temas principais (segurança pública
e política de assistência social) e de um escândalo político (o caso
"Irã-Contras" da administração Reagan, envolvendo o financiamento
da contra-revolução na Nicarágua com a venda ilegal de armas ao Irã). O
autor classificou as notícias sobre estes temas de acordo com dois tipos de
enquadramento: o "enquadramento episódico", que possui um forte foco
em eventos, e o "enquadramento temático", que destaca um nível ou
contexto analítico mais geral que vai além dos "fatos". A partir dos
resultados de seus experimentos controlados e de surveys, Iyengar conclui que atribuições de responsabilidade
funcionam como marcos de referência importantes no processo de formação de
opinião. Por exemplo, o enquadramento episódico do tema da pobreza reduziu de
forma indireta o apoio a programas de assistência social e aumentou a aprovação
por parte do público de líderes que buscavam eliminar este programas (p. 101).
Iyengar apresenta um dos estudos mais sistemáticos e importantes sobre
processos de enquadramento. A conclusão principal do autor é a de que o
enquadramento episódico faz com que as pessoas atribuam a responsabilidade
pelos problemas políticos e sociais a indivíduos, em lugar da consideração
de forças ou fatores sociais mais amplos. Em conseqüência, a relação entre
estes problemas e ação ou falta de ação de líderes políticos fica
obscurecida. O autor ressalta, todavia, que os efeitos de enquadramento tendem a
depender do tema, em lugar de refletir um mesmo padrão universal.
Outros
estudos também utilizaram o método do experimento controlado para identificar
os efeitos dos enquadramentos da mídia. Nelson e seus associados demonstraram,
por exemplo, que quando uma passeata da organização racista Ku Klux Klan era
enquadrada por notícias de jornal como um tema de liberdade de expressão, as
pessoas expressavam maior tolerância quanto ao direito do grupo de organizar a
passeata. Todavia, quando o evento era enquadrado em termos da perturbação da
ordem pública, a tolerância diminuía (Nelson et al., 1997a). Em outro
pesquisa sistemática e importante, Cappella e Jamieson (1997) analisaram a relação
entre os enquadramentos da mídia e o tema do cinismo político da população.
Os autores demonstram que quando o noticiário adota um "enquadramento
estratégico", chamando a atenção da audiência para as motivações
manipulatórias dos políticos, o cinismo e a desconfiança do público são
ativados. Finalmente, vários autores investigaram, também através de manipulação
experimental, os efeitos do "enquadramento de interesse humano" (human
interest frame) que focaliza indivíduos e leva à personalização da
cobertura da mídia (Neuman, Just e Criegler, 1992; Price, Tewksbury e Powers,
1997; Valkenburg, Semetko e Veese, 1999).
Estudos sobre enquadramento no Brasil
O
conceito de enquadramento tem sido aplicado de forma crescente também nos
estudos sobre a relação entre mídia e política realizados no Brasil. Em um
trabalho pioneiro nesta área, Afonso de Albuquerque (1994) realizou uma análise
da cobertura da eleição presidencial pelo
Jornal Nacional da Rede Globo entre os meses de março e maio de 1994. Além
da análise do desequilíbrio no tempo dedicado aos dois principais candidatos
(Fernando Henrique e Lula), o autor também ressalta os diferentes
enquadramentos utilizados pelo telejornal para cobrir a campanha. O candidato
Fernando Henrique teria sido enquadrado em termos de sua habilidade em unificar
forças políticas e construir consenso, enquanto Lula era associado a grupos de
interesse, especialmente sindicatos, e a conflitos e discórdia (Albuquerque,
1994). Em outra análise do Jornal
Nacional que incluiu o período da eleição presidencial de 1994, Gustavo
Fabrício (1997) também recorre ao conceito de enquadramento. O autor
argumenta, por exemplo, que o principal telejornal do país apresentou um
enquadramento positivo sobre o Plano Real, o que teria contribuído para
construir um clima de otimismo e confiança que favoreceu a candidatura de
Fernando Henrique.
Acadêmicos
brasileiros têm encontrado no conceito de enquadramento um instrumento de análise
importante para estudar a relação entre a mídia e os movimentos sociais. Em
particular, pesquisadores destacaram os enquadramentos utilizados na cobertura
do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, o MST, pelos principais
telejornais. Uma pesquisa realizada em 1997 sobre os dois principais telejornais
do país, o Jornal Nacional e o TJ Brasil,
identificou algumas diferenças no enfoque adotado por cada emissora. O TJ
Brasil teria ressaltado os elementos de violência, perigo e conflito,
adotando assim um "enquadramento dramático". Por outro lado, o Jornal
Nacional ressaltou não só estes elementos, como também incluiu uma crítica
moral do movimento, reclamando sobre sua irracionalidade e sua
irresponsabilidade, adotando assim um "enquadramento moral" (Aldé e
Lattman-Weltman, 2000). Outra análise de conteúdo do Jornal Nacional e do Jornal da
Record conduzida no ano seguinte demonstrou como o "enquadramento
oficialista" do telejornal da Rede Globo afetou a cobertura do MST.
Segundo os autores, o JN associou os saques que ocorriam por causa da
seca no nordeste ao MST, ressaltando em particular o caráter violento do
movimento e sua vinculação com a candidatura de Lula (Lima, 2001, pp.
297-301).[2]
A
utilização do conceito de enquadramento por acadêmicos brasileiros
expandiu-se nas pesquisas realizadas sobre a eleição presidencial de 1998. Vários
autores recorreram ao conceito para ressaltar como a mídia construiu um cenário
favorável à reeleição de Fernando Henrique Cardoso, principalmente no que se
refere à cobertura da crise econômica que o país atravessava no período
eleitoral. Quando a economia passou a enfrentar sérias dificuldade poucos meses
antes da eleição, o tratamento que a mídia daria à crise passou a ser uma
questão importante. A campanha pela reeleição do presidente enquadrou a crise
econômica como resultado das dificuldades no plano internacional,
principalmente após a crise russa, apresentando o candidato como o único com a
experiência necessária para ultrapassar as dificuldades criadas por forças
que estavam além do seu controle (Miguel, 1999). A mídia em geral, e o Jornal
Nacional em particular, seguiu esta linha de interpretação, enquadrando a
crise econômica como uma conseqüência das dificuldades que a economia mundial
estava enfrentando (Miguel, 1999; Colling, 1999; Soares, 2000, Lima, 2001, pp.
269-322). O conceito de enquadramento permitiu aos pesquisadores ressaltar a
clara ressonância que havia entre a estratégia de campanha de Cardoso e o cenário
construído pela mídia.[3]
O
conceito de enquadramento tem sido também utilizado para desenvolver estudos
comparativos entre o jornalismo praticado no Brasil e o de outros países. Em
pesquisa sobre a cobertura da eleição presidencial de 2000 nos EUA pelo jornal
Folha de S. Paulo, busquei ressaltar
como o jornal brasileiro de maior circulação adotou padrões de enquadramento
muito semelhantes a aqueles adotados pelo jornalismo estadunidense. A grande
maioria das notícias publicadas pela Folha
sobre a eleição de 2000 nos EUA adotou o "enquadramento corrida de
cavalos" e o "enquadramento episódico", dando assim pouco atenção
aos aspectos substantivos da campanha (Porto, 2001c).
Como
vimos, o conceito do enquadramento tem recebido uma atenção crescente nas análises
de conteúdo desenvolvidas por pesquisadores brasileiros. Todavia, a pesquisa no
país sobre os efeitos destes enquadramentos na audiência ainda está em seus
primórdios. Poucos trabalhos incluem pesquisas empíricas sobre os efeitos dos
enquadramentos da mídia na formação das preferências políticas do público.
Mas aqui também já se registram avanços. Através de entrevistas qualitativas
com 19 cidadãos comuns em um período de mais de um ano, Alessandra Aldé
(2001) investigou como alguns enquadramentos da televisão (suas avaliações
morais, seu caráter documental e a personalização que caracteriza sua
cobertura política) oferecem explicações simplificadas e "satisfatórias",
transformando a televisão em um quadro de referência especialmente acessível
aos cidadãos comuns. Em outro estudo que incluiu experimentos controlados e
grupos focais com moradores do Distrito Federal, ressaltei como os
enquadramentos apresentados pelo Jornal
Nacional e pela novela Terra Nostra
afetaram o processo pelo qual suas audiências fizeram sentido do mundo da política
(Porto, 2001b).
Direções para pesquisas futuras
Nesta
seção, apresentarei sugestões para o aprimoramento do paradigma do
enquadramento e para a superação de algumas das debilidades que caracterizam
os estudos feitos nesta tradição. A apresentação destas sugestões assumirá
uma forma "didática", sugerindo os passos que devem ser tomados pelos
pesquisadores. Tais propostas não têm, todavia, um caráter exaustivo. Não se
trata de um modelo rígido que não poder ser alterado, mas sim de sugestões
preliminares que deverão ser aperfeiçoadas por novas pesquisas empíricas. Não
pretendo também sugerir que as pesquisas a serem desenvolvidas a partir do
conceito de enquadramento devam seguir todos os passos descritos a seguir. O
objetivo é distinguir as diversas áreas de pesquisa e de estabelecer um marco
teórico e conceitual mais claro e sistemático.
a) Primeiro passo:
especifique os níveis de análise do conceito.
Um
dos problemas mais sérios dos estudos sobre enquadramento é um forte
"indeterminismo conceitual": o conceito é utilizado de diversas
formas, com sentidos distintos e designando objetos diferentes (Cappella e
Jamieson, 1997, p. 39; Nelson et al., 1997b, pp. 222-223). Os usos da noção de
enquadramento são tão numerosos e variados que surgem dúvidas quanto à
possibilidade de construção de um marco teórico claro, sistemático e
coerente a partir do conceito. Alguns autores chegam mesmo a concluir que,
considerando a variedade dos tipos de enquadramentos existentes, seria ingênuo
pretender construir uma teoria única e abrangente (Nelson e Willey, 2001, p.
246).
Este
artigo compartilha a visão de que não é possível, nem desejável, construir
uma teoria abrangente ou uma única definição que tente dar conta de todos os
aspectos tratados pelos estudos sobre os enquadramentos da mídia. Para
esclarecer o conceito, é preciso especificar os diferentes níveis de análise
e, como conseqüência, definir mais claramente os diversos tipos de
enquadramento. Alguns passos já foram dados neste sentido. Maher (2001, pp.
88-89) distingue entre os "enquadramentos da mídia", criados pelos
jornalistas, e os "enquadramentos culturais", que independem dos
jornalistas e existem no plano mais amplo da cultura. De forma semelhante,
Hertog e McLeod (2001, pp. 143-144) diferem "enquadramentos de
formato" dos "enquadramentos de conteúdo". Nelson e Willey
(2001) argumentam que é preciso separar "enquadramentos noticiosos" (news
frames) dos "enquadramentos temáticos" (issue
frames). Como afirmam os autores:
"Relegados de algum modo
pela preocupação com os enquadramentos noticiosos estão os trabalhos sobre os
enquadramentos temáticos. A distinção é, admitimos, um pouco obscura,
inclusive porque os enquadramentos noticiosos são os portadores mais prováveis
dos enquadramentos temáticos. Ainda assim, é importante definir uma linha
separando os enquadramentos temáticos que a mídia simplesmente relata
e aqueles que ela impõe a partir de hábito
organizacional ou demandas de mercado. Enquadramentos noticiosos, como o de conflito,
surgem a partir da necessidade de atrair audiência através da ênfase em
confrontações exageradamente dramáticas (…) Enquadramentos temáticos têm
uma especificidade em termos de conteúdo (ainda que não exclusivamente) e são
geralmente formulados por políticos profissionais, anunciantes, porta-vozes,
editorialistas, assessores, e outros atores que se preocupam em moldar a opinião
pública (…) Enquadramentos temáticos são descrições de problemas e políticas
sociais que influenciam o entendimento do público sobre a origem deste
problemas e sobre os critérios mais importantes a partir dos quais as soluções
propostas devem ser avaliadas" (Nelson e Willey, 2001, p. 247; itálicos no
original; tradução do autor)
Esta
distinção entre dois tipos principais de enquadramento é fundamental para
evitar a confusão que tem caracterizado as aplicações do conceito. A partir
das distinções que já começam a ser formuladas e de diversas definições do
conceito, proponho distinguir dois tipos principais de enquadramento: os enquadramentos
noticiosos e os enquadramentos
interpretativos. Enquadramentos
noticiosos são padrões de apresentação, seleção e ênfase utilizados por
jornalistas para organizar seus relatos. No jargão dos jornalistas, este
seria o "ângulo da notícia", o ponto de vista adotado pelo texto
noticioso que destaca certos elementos de uma realidade em detrimento de outros.
Nesta categoria estão, por exemplo, o "enquadramento de interesse
humano", que focaliza a cobertura em indivíduos, ou o "enquadramento
episódico", com sua ênfase em eventos. No plano da cobertura de eleições,
por exemplo, estariam nesta categoria o "enquadramento corrida de
cavalos" (horse race frame) e o
"enquadramento temático" (thematic
frame), ressaltando, respectivamente, o desempenho dos candidatos nas
pesquisas e suas propostas programáticas (ver Porto 2001c). Uma característica
importante dos enquadramentos noticiosos é o fato de que eles são resultado de
escolhas feitas por jornalistas quanto ao formato das matérias, escolhas estas
que têm como conseqüência a ênfase seletiva em determinados aspectos de uma
realidade percebida.
Já
os enquadramentos interpretativos operam em um nível mais específico e possuem
uma independência relativa em relação aos jornalistas que os relatam. Enquadramentos
interpretativos são padrões de interpretação que promovem uma avaliação
particular de temas e/ou eventos políticos, incluindo definições de
problemas, avaliações sobre causas e responsabilidades, recomendações de
tratamento, etc. Estas interpretações são promovidas por atores sociais
diversos, incluindo representantes do governo, partidos políticos, movimentos
sociais, sindicatos, associações profissionais, etc. Apesar do fato que
jornalistas também contribuem com seus próprios enquadramentos interpretativos
ao produzir notícias, este tipo de enquadramento tem origem geralmente em
atores sociais e políticos externos à prática jornalista. Trata-se aqui de
interpretações oriundas de um contexto mais amplo que podem ser incorporadas
ou não pela mídia.
Uma
diferença entre os dois tipos de enquadramento se refere, portanto, à sua
fonte. Em geral, os enquadramentos noticiosos são criados por jornalistas e os
interpretativos são elaborados por atores políticos e sociais. Jornalistas
tendem a apresentar seus próprios enquadramentos interpretativos em colunas de
opinião ou matérias de cunho analítico. Entretanto, as normas da objetividade
e da imparcialidade tendem a inibir a apresentação de interpretações no
noticiário pelos jornalistas. Isto não significa, todavia, que os jornalistas
não tenham um papel ativo na apresentação de enquadramentos interpretativos,
mas sim que este papel tem um caráter mais sutil e indireto. Jornalistas freqüentemente
citam outros atores para promover interpretações específicas da realidade política.
Como vários autores já demonstraram, repórteres evitam apresentar interpretações
de forma direta e citam afirmações de outros atores para dizer o que elas ou
eles próprios pensam (Tuchman, 1972, p. 668; Sigal, 1973, p. 67). Por esta razão,
uma recomendação importante para os estudos sobre enquadramentos
interpretativos é identificar as avaliações apresentadas pelas fontes que são
citadas pelos jornalistas (Porto, 2001b; Hertog e McLeod, 2001, pp. 147-148;
Dickerson, 2001, p. 167).
Um
primeiro passo na análise de enquadramentos é, portanto, a definição do nível
em que se está trabalhando (enquadramento noticioso ou interpretativo). Isto não
significa, todavia, que pesquisadores não possam trabalhar nos dois níveis
simultaneamente.[4]
Uma linha de pesquisa interessante poderia tratar, por exemplo, da relação
entre os dois tipos de enquadramento. Em que medida os enquadramentos noticiosos
de tipo "episódico" ou de "interesse humano" tendem a
eliminar da cobertura jornalística os enquadramentos interpretativos ou
dificultar a compreensão dos temas por parte da audiência? Estas e outras
questões permanecem em aberto.
b) Segundo passo: identifique as principais controvérsias
e os enquadramentos a elas relacionados
No
caso específico dos enquadramentos interpretativos, um passo importante é a
identificação das interpretações que são apresentadas sobre os principais
eventos e temas políticos. O conceito de enquadramento permite entender o
processo político como uma disputa sobre qual interpretação irá prevalecer
na formação, desenvolvimento e resolução de controvérsias políticas. O
conceito permite ainda ressaltar como estas controvérsias se desenvolvem não
através da apresentação de "fatos" ou "informação", mas
sim através de interpretações que são utilizadas para avaliar estes eventos
ou temas políticos (Porto, 2001b, cap. 5; Pan e Kosicki, 2001; Miller e
Riechert, 2001).
Ao
identificar as principais controvérsias e enquadramentos, é importante
ressaltar que atores sociais distintos possuem capacidades diferenciadas para
influenciar os processos de enquadramento da mídia. As fontes oficiais do
governo, em especial, tendem a predominar no processo de produção das notícias
(Sigal, 1973; Hallin, 1994; Beckett, 1995). Todavia, como afirmam Pan e Kosicki
(2001), o processo de enquadramento não é uma via de mão única através da
qual as elites manipulam o público (p. 47). Enquadramentos não se referem
apenas a processos de manipulação, mas são parte de qualquer processo
comunicativo, uma forma inevitável através da qual atores fazem sentido de
suas experiências (p. 60). Agentes sociais que desafiam o governo e outros
grupos políticos poderosos possuem seus próprios enquadramentos e buscam,
muitas vezes com sucesso, influenciar a produção de sentido e significados
pela mídia. Estes agentes podem facilitar o trabalho dos jornalistas ao
organizar eventos que se encaixam nas suas rotinas e normas profissionais ou ao
produzir materiais especialmente desenhados para subsidiar reportagens (Ryan,
1991; Wolfsfeld, 1997; Pan e Kosicki, 2001, p. 46).
Além
de influenciarem a mídia com seus próprios enquadramentos, apesar de sua posição
de desvantagem em relação às fontes oficiais, movimentos sociais podem também
ser beneficiados por enquadramentos noticiosos. Em sua excelente análise sobre
o papel da mídia da rebelião palestina da intifada, Wolfsfeld (1997) mostra como alguns dos enquadramentos
utilizados por jornalistas podem beneficiar movimentos de oposição, entre eles
o enquadramento "o poder corrompe" ou "a vítima inocente"
(pp. 37-38). Além disso, as imagens de jovens palestinos jogando pedras no exército
israelense criava um drama especialmente adequado para a televisão (p. 152).
Uma
recomendação resulta da consideração destes fatores: o pesquisador deve
analisar não só os enquadramentos dominantes ou de grupos influentes, mas também
incluir as interpretações promovidas por movimentos sociais ou de oposição,
inclusive aquelas que são excluídas pela mídia. A análise deve explicitar
ainda as razões que levam ao predomínio de certos enquadramentos em detrimento
de outros. Como vários autores já ressaltaram, uma das lacunas dos estudos já
realizados é falta de análises que considerem os fatores que influenciam o
processo de enquadramento pela mídia (Hertog e McLeod, 1991, p. 160; Gandy,
2001, p. 357). Na pesquisa que realizei sobre a produção e recepção dos
enquadramentos do Jornal Nacional,
ressaltei, através de entrevistas com os principais editores e produtores do
telejornal, os fatores que fazem com que alguns enquadramentos interpretativos
predominem no noticiário. Entre estes fatores estão rotinas profissionais
(escassez de tempo, acessibilidade de fontes, etc), as características da audiência
e as posições políticas da própria empresa e dos jornalistas (Porto, 2001b,
capítulos 7 a 9).
c) Terceiro passo: desenvolva
uma análise de conteúdo sistemática
Outra
debilidade dos estudos de enquadramento é a freqüente ausência de métodos
sistemáticos para a análise de conteúdo da mídia. Sem este tipo de método,
pesquisadores tendem a encontrar os enquadramentos que procuram ou que comprovam
suas hipóteses, ignorando evidências contrárias importantes (Tankard, 2001,
p. 98; Hertog e McLeod, 1991, p. 151). É preciso, portanto, desenvolver métodos
de análise mais sistemáticos e menos subjetivos.
Vários
métodos para a identificação dos enquadramentos da mídia já foram
desenvolvidos. Como vimos anteriormente, Gamson e sua equipe desenvolveram o método
da "matriz de assinatura" para identificar as práticas de
enquadramento que compõem os diversos "pacotes interpretativos",
incluindo metáforas, slogans e imagens (ver Gamson e Lasch, 1983). Adotando um
enfoque mais próximo da análise do discurso, Pan e Kosicki (1992) propõem
identificar diversos instrumentos de enquadramento, incluindo estruturas sintáticas
e retóricas. Já Tankard (2001) propõe o método da "lista de
enquadramentos" que inclui 11 mecanismos de enquadramento.
Seja
qual for o método adotado, o importante é adotar categorias de classificação
sistemáticas e protocolos para a codificação do conteúdo da mídia. Para
alguns autores, é fundamental incluir medidas quantitativas, já que a
quantidade de tempo ou espaço dedicada a determinados enquadramentos ou temas
é uma medida importante da sua centralidade (Entman, 1991, pp. 9-10; Cappella e
Jamieson, 1997, p. 57). Já outros autores consideram que o enquadramento mais
importante pode não ser o mais freqüente, rejeitando assim a análise de conteúdo
quantitativa (Reese, 2001, p. 8; Hertog e McLeod, 2001, p. 152). Como argumentei
em mais detalhe em outra oportunidade (Porto, 2001b), a melhor solução é
adotar um enfoque integrado que inclua tanto uma análise de conteúdo
quantitativa, como uma análise textual de cunho mais qualitativo.
É
preciso ainda avançar na superação de outra debilidade dos estudos sobre os
enquadramentos da mídia. Estes estudos tendem a identificar um único
enquadramento nas notícias e têm dificuldades para enfrentar o fato de que o
conteúdo da mídia tem um caráter freqüentemente contraditório (Cappella e
Jamieson, 1997, pp. 111-112). Críticas a partir de teorias pós-modernas têm
ressaltado corretamente a tendência funcionalista dos estudos de enquadramento
de identificar um único enquadramento dominante, ignorando assim as contradições
que estão inscritas nas narrativas noticiosas (Durham, 1998). Apesar do fato de
que noções pós-modernas sobre a fluidez dos significados são elas próprias
problemáticas, a natureza complexa e contraditória das mensagens dos mídia não
pode ser ignorada.
Para
superar estas debilidades, propus em outro trabalho uma classificação sobre a
"forma" das mensagens televisivas. Uma primeira distinção desta
classificação diz respeito à presença ou ausência de mais de um
enquadramento nos segmentos do conteúdo da mídia. Assim, segmentos
"restritos" são aqueles que incluem um único enquadramento
interpretativo sobre um evento ou tema político, enquanto que segmentos
"plurais" incluem mais de um enquadramento. Os segmentos
"plurais" por sua vez podem ser subdivididos em
"plurais-fechados", onde um dos enquadramentos é privilegiado ou
enfatizado, e "plurais-abertos", onde nenhum enquadramento é
apresentado como mais válido ou verdadeiro. Finalmente, segmentos com uma forma
"episódica" não incluem enquadramentos interpretativos, adotando um
estilo mais descritivo de reportagem (ver Porto, 2001b).
Esta
classificação da forma dos segmentos de conteúdo da mídia permite
identificar como, ao mesmo tempo em que apresenta uma certa diversidade de
enquadramentos, a mídia contribui para privilegiar determinadas interpretações
hegemônicas da realidade, especialmente aquelas promovidas pelas fontes
oficiais do governo (ver Porto, 2001b). Além disso, esta classificação
permite analisar de forma mais sistemática a recepção e os efeitos dos
enquadramento da mídia. Através de experimentos controlados com moradores do
Distrito Federal, demonstrei que quando notícias do Jornal Nacional adotavam uma forma restrita, com um único
enquadramento interpretativo, um número maior de pessoas interpretava o evento
ou tema político tratado na reportagem de acordo com este enquadramento
dominante. Por outro lado, quando expostos a segmentos plurais, as pessoas têm
acesso a um conjunto mais amplo de interpretações e desenvolvem entendimentos
mais variados sobre a política (Porto, 2001b, capítulos 8 e 9).
Considerações finais
Neste
trabalho procurei demonstrar a importância de um novo paradigma, baseado no
conceito de enquadramento, para o campo da comunicação política. Apesar dos
diversos problemas que ainda caracterizam os estudos desta tradição, o novo
enfoque teórico oferece uma sólida alternativa para paradigmas em declínio ou
contribui para superar algumas das lacunas
mais importantes das teorias existentes. Também busquei apresentar algumas
sugestões preliminares para o desenvolvimento de marcos teóricos e pesquisas
empíricas mais claras e sistemáticas a partir do conceito de enquadramento. O
desenvolvimento destas pesquisas torna-se ainda mais importante considerando a
relação estreita entre os enquadramentos da mídia, os processos de deliberação
política dos cidadãos, e a própria viabilidade de um sistema genuinamente
democrático (Kinder e Herzog, 1993; Entman, 1994; Porto, 2001b; Pan e Kosicki,
2001).
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Cambridge: Cambridge University Press.
[1]
Professor da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília
(UnB) e Coordenador do Núcleo de Estudos sobre Mídia e Política (NEMP) do
CEAM/UnB.
[2]
Em outro trabalho (Porto, 2001a), ressaltei como a telenovela "O
Rei do Gado" constituiu uma fonte de enquadramentos alternativos que se
contrapunha à forma como o MST era representado pelos telejornais. Os
estudos sobre enquadramento, todavia, tendem a concentrar-se na análise de
gêneros jornalísticos, ignorando como programas de entretenimento
enquadram o mundo da política.
[3] Deve ser ressaltado, todavia, que a campanha de Lula não foi capaz de construir uma interpretação alternativa convincente sobre a crise econômica ou de identificar a responsabilidade de Cardoso pelas dificuldades que o país estava enfrentando (Venturi, 2000, p. 112). Este fato ficou evidenciado nos grupos focais realizados com eleitores pela própria campanha de Lula (Almeida, 2000, p. 167)
[4]
Na pesquisa que desenvolvi sobre a cobertura da eleição
presidencial de 2000 nos EUA pelo jornal Folha
de S. Paulo, trabalhei com os dois tipos de enquadramento. Na análise
do noticiário do período da campanha eleitoral, classifiquei as notícias
de acordo com alguns enquadramentos noticiosos (temático, corrida de
cavalos, centrado na personalidade e episódico). Já na análise da
cobertura dos tumultos que ocorreram durante a apuração dos votos, busquei
identificar os enquadramentos interpretativos apresentados pelo noticiário
que avaliavam os eventos do período de forma específica (Porto, 2001c).