Redação Jornalística para a Web

Carole Rich


Sumário

Introdução - Este estudo irá explorar as várias formas de escrever notícias online. Ele apresentará entrevistas com líderes da nova mídia, pesquisas, modelos para redação de notícias online e recursos.

Impacto da Forma Não-linear - A redação não-linear muda a relação redator-leitor, dando controle ao leitor. Andy Beer, produtor executivo da MSNBC News, discute o impacto no jornalismo. 

Importância da Interatividade - Howard Witt, editor gerente associado para notícias interativas do Chicago Tribune, discute por que a interatividade é crucial para os sites de notícias online.  

O Processo de Redação - Notícias online requerem alguns passos peculiares em planejamento, organização, reportagem e redação.

Estudos de Usuários - Parte I O modo como as pessoas lêem online afeta a redação. Estudos mostram que muitos leitores são scanners (passam os olhos pela notícia, lendo apenas elementos-chave), portanto a redação deve ser curta, com subtítulos e bullets (listas com bolinhas). 

Estudos de Usuários - Part II   Clicar versus rolar: a preferências dos usuários Web por rolar está mudando.  

Estudo de Teaser - Subtítulos destacados escritos como broadcast teasers atraem o leitor mais que subtítulos sumários? Devem as manchetes e subtítulos repetir o lide em matérias online? Um estudo revela algumas descobertas surpreendentes.

Formatos de Matérias I  - Sites de notícias online estão explorando algumas maneiras inovadoras de apresentação de matérias para a Web. Esta seção destaca o formato para scanners.  

Formatos de Matérias II - Narrativas seriadas estão atraindo leitores, e sites de ficção experimental inspira novos modelos para a redação online. 

Conclusão - Sumário de dicas baseadas em pesquisas que podem ser aplicadas em muitas redações online.


Introdução

Ciberespaço diz respeito a leitores, não a escritores. O jornalista que cuidadosamente constrói uma matéria com lide, meio e fim está à mercê de usuários da World Wide Web que se parecem com "batatas de poltrona de TV" [TV couch potatoes] com um mouse no lugar do controle remoto. Com um mundo na ponta dos dedos, leitores podem se ligar a outro site Web um instante antes que sequer tenham acesso à matéria.  

Isto não difere de leitores de jornais impressos que scaneiam manchetes.  Mas notícias na Web oferecem mais desvios e problemas.  Com a multitude de links para outros sites e tecnologia que causa legibilidade pobre e tempo de descarga lento, pegar e manter a atenção de leitores é mais difícil online do que em jornais impressos.  

Como então devemos escrever matérias para a Web? Devemos escrever notícias em pirâmide invertida, com a informação mais importante no topo do texto?  Devemos escrever em forma de narrativa como um texto de ficção com um argumento que se desenrola do início ao fim? Devemos organizar matérias em cachos para o leitor clicar ou em uma tela contínua que ele possa rolar? Ou devemos criar novas formas de contar histórias para a Web?

Este estudo irá explorar muitas formas de escrever notícias online. Ele destacará entrevistas com líderes da mídia, pesquisas, modelos para notícias e recursos para escrever na Web.  

Como a forma não-linear afeta o jornalismo online?

A característica distintiva da World Wide Web é o hipertexto, links clicáveis para outras informações na mesma ou em outras páginas Web. Hipermídia adiciona links de áudio, de imagens e de vídeo. O resultado é a informação não-linear, um formato que leva o leitor a ler e acessar a informação em qualquer ordem que escolher.  

Em contraste, a informação linear é apresentada em uma ordem detereminada do início ao fim como uma linha reta. Se leitores quiserem entender a história, eles devem lê-la na ordem em que é apresentada. Notícias broadcast são também lineares. Ainda que telespectadores possam mudar de canal, eles não têm controle sobre a ordem em que as notícias são presentadas. 

Relacionamentos úteis 

George Landow, um professor da Brown University e estudioso de hipermídia, usa a metáfora de uma rede, uma árvore com galhos, um ninho de caixas ou uma teia para descrever a estrutura da redação não-linear. 

"Hipermídia como um meio transmite a forte impressão que seus links significam relacionamentos coerentes, com propósito e, acima de tudo, úteis", escreveu ele em Hypermedia e Estudos Literários. "Ela continua dependendo de muitos dos princípios de organização que fazem o discurso em papel coerente e até prazeroso de ler...   

"Quando usuários seguem links e encontram material que pareça não ter uma relação significante com o documento que originou o link, eles se sentem confusos e ressentidos", escreve ele. 

Muda o relacionamento leitor/escritor   

Usando estes princípios, uma matéria online fica mais como um caderno de domingo com retrancas [a Sunday package with related sidebars] do que uma simples matéria. Quer a matéria tenha links para outras páginas Web, quer links para a mesma página, a estrutura não-linear muda a relação escritor-leitor. O escritor renuncia ao controle sobre a informação em prol do leitor.  Sven Birkerts, autor de A Elegia Gutenberg: o Destino da Leitura numa Era Eletrônica diz que o hipertexto "muda todo o sistema de poder sobre o qual a experiência literária tem se firmado"... 

"Uma vez que o leitor esteja habilitado a colaborar, a participar ou de alguma maneira a se engajar no texto como um jogador com poder que tem alguma voz no resultado do jogo, as hipóteses básicas da leitura são chamadas à questão", escreve Birkerts. A imaginação é libertada das limitações de ser guiada a cada passo pelo autor".  

Mas dando ao leitor a liberdade de escolha sobre caminhos a seguir pode romper com a compreensão. Birkerts descreve sua experiência de ler uma história de ficção hipertextual criada em blocos e ligações para diferentes seções como uma constante interrupção: "A superfície de leitura é fraturada, restituída como colagem pelo aparecimento de salientes palavras-chave e de caixas de menu repentinamente materializadas".  

Empurra-ware  

Birkerts teria menos problemas lendo sites de notícias. A maioria deles continua apresentando as mesmas matérias lineares que foram impressas. Esta "reutilização" do material impresso na Web é chamado de "shovelware"[lê-se châvel-uér, software empurrado com pá, empurra-ware]. O termo carrega uma conotação negativa.  

Elizabeth Osder, editor de desenvolvimento de conteúdo para o New York Times online, defende o uso do empurra-ware. Ela diz que os leitores do New York Time querem online o conteúdo do jornal.  

"Um bom site deve ser útil para as pessoas e deve servir à sua audiência", disse Osder em uma conferência para educadores de jornalismo. "Eu não penso que haja alguma coisa de errado com um Web site que seja estritamente empurra-ware". 

Crescimento de conteúdo original  

Mas o desenvolvimento de conteúdo original em Web sites de jornais está crescendo.   Um estudo, "A Mídia no Ciberespaço", de Steven Ross, um

professor associado na Universidade de Colúmbia, e Don Middleberg, presidente e CEO da Middleberg + Associates estudaram 6.000 gerentes de revistas, jornais e radiodifusoras. Este quarto estudo anual, conduzido em 1997, diz que 20% dos jornais com site na Web relataram que no mínimo metade do conteúdo de seus sites é material original desenhado para a Web. No ano anterior, apenas 7% dos sites de jornais tinham conteúdo Web original, segundo o estudo.  

Evolução da Mídia

Andy Beers, produtor executivo do noticiário da MSNBC, diz que sites de notícias online irão continuar a desenvolver mais conteúdo exclusivo para a Web.

"Eu penso que se eu tivesse que apontar o maior erro que nós cometemos, seria dispender muito tempo tentando reinventar o jornal online", diz Beers. "O que você está começando a ver mais é a evolução do meio como uma maneira própria de contar uma história. Existe uma maneira particular de permitir que pessoas controlem a informação".

Beers cita a recente eleição [N.do T.: vale para o Brasil de 1998] como um exemplo de como a Web deu poder às pessoas para obter a informação que precisam quando elas precisam. As pessoas podem se ligar a um Web site e procurar pelos resultados das eleições que procuram em vez de esperar que os jornais os imprimam ou escutar a radiodifusão até que ss eleições específicas seja mencionadas.

Beers diz que matérias online devem ser construídas em camadas que ofereçam aos leitores níveis diferentes de informação. Alguns leitores querem briefs, enquanto outros querem histórias completas, multimídia, ou informação aprofundada, diz ele.  

O site de notícias da MSNBC, uma joint venture da Microsoft Corp., NBC-TV e CNBC a cabo, entrou online em 1996. Desde então, o site tem sido redesenhado, e a equipe tem experimentado com maneira de estruturar matérias online. Multimídia é a maior adição à narrativa na MSNBC. 

Relevância para jornalistas  

"Esta nova mídia tem algumas capacidades realmente úteis e excitantes para as pessoas", diz Beers. "O que tudo isto significa para jornalistas? Eu penso que todos nós carregamos uma bagagem baseada em um tipo de direito pelo qual nós decidimos o que as pessoas necessitam. Eu penso que a internet está levando à superação deste conceito e nos forçando a examinar o que o jornalismo é".

"As pessoas se sentem bastante fortalecidas pela Web", diz ele. "Nós temos que aprender a usar estas capacidades que podem mudar a maneira de obter informação. Nós estamos envolvendo a audiência e deixando que ela tenha o controle. Isto é uma coisa muito poderosa".    

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